Nunca repetiríamos em demasia: a melhor garantia de sinceridade é o desinteresse
absoluto. Um médium é sempre forte quando pode responder aos que suspeitassem de
sua boa-fé: “Quanto pagastes para vir até aqui?”
Ainda uma vez: a
mediunidade séria não pode ser e jamais será uma profissão. Não só porque seria
moralmente desacreditada, mas porque repousa sobre uma faculdade essencialmente
móvel, fugidia e variável, que nenhum dos que a possuem hoje está certo de a
possuir amanhã. Só os charlatães estão sempre seguros de si mesmos. Outra coisa
é um talento adquirido pelo estudo e pelo trabalho que, por isso mesmo, é uma
propriedade, da qual é naturalmente permitido tirar partido. De modo algum a
mediunidade está neste caso. Explorá-la é dispor de uma coisa da qual realmente
não se é dono; é desviá-la de seu objetivo providencial; mais ainda: não é de
si próprio que se dispõe: é dos Espíritos, das almas dos mortos, cujo
concurso é posto a prêmio. Este pensamento repugna instintivamente. Eis por que
em todos os centros sérios, onde se ocupam do Espiritismo santamente,
religiosamente, como em Lyon, Bordeaux e tantos outros lugares, os médiuns
exploradores seriam completamente desconsiderados.
Que aquele, pois, que
não tem de que viver procure alhures os recursos e, se necessário, só consagre à
mediunidade o tempo que materialmente a ela possa devotar. Os Espíritos levarão
em conta o seu devotamento e os seus sacrifícios, ao passo que, mais cedo ou
mais tarde, punem os que esperam dela fazer um trampolim, seja pela retirada da
faculdade, pelo afastamento dos bons Espíritos, pelas mistificações
comprometedoras, seja por meios ainda mais desagradáveis, como o prova a
experiência.
Se insistimos novamente
sobre a questão do desinteresse dos médiuns, é que temos razões de crer que a
mediunidade fictícia e abusiva é um dos meios de que se servem os
inimigos do Espiritismo com vistas a desacreditá-lo e o apresentar como obra do
charlatanismo. É necessário, pois, que todos os que se interessam vivamente pela
causa da doutrina se deem por advertidos, a fim de desmascarar as manobras
fraudulentas, se houver, e mostrar que o Espiritismo verdadeiro nada tem de
comum com as paródias que dele poderiam fazer, e que repudia tudo quanto se
afaste do princípio moralizador, que é sua essência.
Livro: Revista Espírita:
Jornal de Estudos Psicológicos - Ano VII, 1864
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