ENTREVISTAS


SÁBADO, 14 DE JANEIRO DE 2012

Entrevista Mãe de Santo Helena P. Ludwig Alves

 

A umbandista Helena P. Ludwig Alves é Mãe de Santo. Porém, descarta superstições e simpatias do seu cotidiano. Acredita em energia emanada pela força do pensamento e tem muito respeito pela Mãe Natureza. Não é matadora de bichos, conforme muitos leigos a definiriam. Costuma plantar o bem, evitando problemas com a Lei da Ação e Reação. Pratica a caridade como sua missão de vida.
Moradora de Itaipu (Niterói/RJ), tem seu terreiro no quintal de casa, onde atende ao povo gratuitamente. Seu marido, Carlos Alberto Fernandes Alves, é Pai de Santo e tem responsabilidades como as de Helena. Revela não ter diferenças entre seus filhos de sangue e seus filhos de santo, que também têm obrigações com o Centro.
As caridades ultrapassam as portas do terreiro.  Estes umbandistas também distribuem sopão e fazem doações para orfanatos, estando sempre preocupados com o social.  Esta Mãe de Santo prega o desprendimento material, o respeito ao próximo e à natureza como lema.
Helena  concedeu a entrevista que se segue, explicando um pouco sobre a sua religião, superstições e premonições.
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 O que é uma simpatia?
Helena P. Ludwig Alves -  O que as pessoas fazem achando que serão beneficiadas de alguma maneira. Por exemplo, o fato de usar branco no ano novo, pensando que será um ano de paz; vermelho para atrair paixão, sendo que nem sempre isso acontece. Então, simpatia é as pessoas acreditarem que fazendo determinado ritual, ou usando determinada roupa, ou comendo determinada coisa, o que elas almejam será alcançado.

Quais as principais simpatias feitas no reveillon?
HPLA - Pode-se notar que a maioria usa branco no reveillon. Também temos a lentilha que vem dos árabes, representando fortuna e prosperidade. Tem a da uva, que muita gente faz, come três uvas e guarda o caroço durante o ano inteiro, o embrulhado num papel ou num pano, a fim de ter prosperidade durante o ano. Também existem tradições familiares; certa vez, na casa de uma amiga, ela fez à meia noite, todos ficarem em pé no pé direito.

Você acredita em simpatias?
HPLA -  Não. Eu já passei a virada de branco e tive anos ruins, já passei de colorido e foi igual. Então, na hora, eu escolho a roupa que vou usar. Não fico mais presa a cores, mas não entro de preto, esta cor não gosto de usar. Uso apenas um detalhe mínimo. Apesar de ser a ausência das cores, depois que entrei para a umbanda parei de usar tanto na virada quanto durante o ano. Também não acredito em magia negra, mas em força negativa.  Se sua energia é ruim, atrai coisas negativas.

Quais as simpatias mais procuradas durante o ano?
HPLA - Durante a época de Santo Antônio, muitas mulheres solteiras escrevem o nome da pessoa que elas pretendem casar ou namorar em bananeiras. Ou escrevem em pedaços de papéis nomes de homens e os colocam num prato com água, o papel que abrir será o nome do pretendente. Eu não acredito em nada disso, simpatia não dá certo. Eu acredito na força da natureza, na transformação, no crescimento. O que existe é a fé.

Mas muitas pessoas vêm ao seu terreiro em busca de simpatias?
HPLA -  Não. Elas vêm acreditando que o que elas querem dará certo, isso é imprescindível em todas as religiões. Quando existe a fé, a pessoa fica positiva e é praticamente o necessário para resolver o problema. A não ser que seja problema de doença ou carma, aí é outra história.  Mas, a partir do momento em que se acredita que vai dar certo, a probabilidade de acontecer é muito grande. 

O que é a umbanda?
HPLA -  A umbanda trabalha com a força da natureza, representada pelos seus orixás. A Iemanjá é a rainha das águas salgadas. Oxum das águas doces...Para cada elemento da natureza existe um orixá. Não mato bichos, não faço simpatias e respeito muito o meio ambiente. Dia 28, fomos à praia. Particularmente, não fiz nada para Iemanjá, mas muitos colocaram pedidos no barquinho e levaram flores. Eu pedi para quem levou bebida, que, por favor, não jogasse a garrafa no mar, nem a deixasse na praia. Abra a champanhe, jogue na areia e traga a garrafa de volta.Tenho este tipo de preocupação, porque o meu trabalho é com a natureza, eu tenho que respeitá-la. Converso com os espíritos e com os orixás mentalmente e com fé, assim faço pedidos.

Como é o trabalho de vocês?
HPLA - Atendemos as pessoas com paciência. As entidades dão consultas gratuitas, receitam um banho de erva ou um chá, fazem orações, acendem velas. Temos também o sopão e caridade em orfanatos.  Nunca cobrei consultas, porque o dom que tenho me foi dado gratuitamente, a fim de cumprir meu carma. Não paguei por ele, não posso cobrar das pessoas. Caridade não se cobra.

Você acredita que uma pessoa possa ter a vida destruída por causa de uma magia?
HPLA - Muita gente acredita. Mas, neste caso, não é o trabalho, é a força negativa que uma pessoa emana para outra. Estando negativa, os chacras ficam abertos, conseqüentemente, receptiva a mais negatividades. Na umbanda,  existe a lei da ação e da reação, se uma pessoa faz mal para alguém, receberá de volta. Eu acredito nesta força.

Acredita nas superstições?
HPLA -  Passo em baixo de escadas e não tenho medo de gato preto. Se você passar em baixo de uma escada, pensando que algo ruim acontecerá, a probabilidade disto ser verdade é alta. Gatos pretos eram muito usados por imperadores e rainhas, hoje têm o estigma de coisa ruim. Sexta-feira 13 não tem nada de negativa, era um dia para agradar a mãe natureza. Com o passar do tempo, os homens vão deturpando tudo. Por exemplo, pagãos eram pessoas que moravam nas áreas rurais e que não tinham acesso às igrejas e às mesquitas.  Eles acreditavam na força da natureza. Hoje, “pagão” tem outra conotação.  O garfo do Netuno virou o garfo do demônio. São coisas que o povo criou.

O que é carma?
HPLA -  Passar por determinadas situações para evoluir espiritualmente, resgates de vidas anteriores, isto explicando de uma maneira geral.  Muitas pessoas que já encarnaram não precisam mais, por exemplo, Ghandi e madre Tereza de Calcutá.

Que tipo de pessoas vêm à sua casa?
HPLA - As pessoas vêm com seus problemas familiares, financeiros ou de doenças, que muitas vezes nem são físicas, mas de cabeça, e um passe já melhora.

A busca por adivinhações e proteções espirituais é muito freqüente?
HPLA -  Depende da época. Em época de Santo Antônio aparecem muitas mulheres aqui.  Na umbanda, Santo Antonio representa Exu, que mexe com os desejos. Em época de São Jorge, o santo guerreiro, muita gente pede pela luta do dia-a-dia. Xangô é da justiça. Como os escravos não podiam praticar a religião deles, relacionaram cada orixá a um santo da igreja católica, fazendo o sincretismo religioso. Hoje, muitas pessoas vão para igrejas católicas pedir para orixás da umbanda.

Como acontece a incorporação?
HPLA - As entidades têm freqüência alta e os médiuns, baixa. Na incorporação, a entidade baixa a freqüência, enquanto a do médium levanta, possibilitando a incorporação.

Algum acontecimento especial em relação ao espiritualismo?
HPLA - Um dia eu acordei muito mal e tive que ir para o hospital.  Lá, um Exu foi me visitar através de um médium. Ele disse que eu ficaria 4 dias hospitalizada, mas nenhum médico descobriria o que eu tinha.  Quando eu saísse, faria o que tinha que fazer com as minhas crianças, depois iria para um Centro. Assim aconteceu, fiquei no hospital sem ninguém saber o que eu tinha. Quando saí, fui para a festa de dias das mães das minhas filhas, depois coloquei roupa branca e comecei a trabalhar na umbanda.

Você acredita em almas gêmeas?
HPLA - Não. Eu acredito em espíritos com afinidade.

O que fazer contra cargas negativas?
HPLA - Tomar banhos de descarrego, chá de ervas, elevar o pensamento, passar defumador na residência. É bom ter em casa plantas como "comigo ninguém pode", "espada de São Jorge"...

Alguma previsão para 2012?
HPLA - Talvez, se você entrevistar outra Mãe de Santo, ela fará muitas premonições. Mas é preciso ter muito cuidado com isso, há muita picaretagem por aí. Algumas pessoas são muito boas, sim, mas tem gente que diz coisas óbvias. Eu não faço adivinhações, apesar de intuir muitas coisas. Há algum tempo atrás, Seu Ogum, entidade do nosso terreiro, disse que aconteceria algo muito sério na Terra relacionado a um grande volume de água, causado por um terremoto e que muita gente morreria, mas que não poderia falar muito...Aconteceu o fato das ondas gigantes. Nem tudo pode ser dito para não criar um caos, que pode ser pior do que o acontecimento em si. É de uma responsabilidade muito grande. Há dias atrás, Exu disse que, em dois meses, Minas passará por alguma catástrofe, mas não podia dizer mais nada.
Eu e o meu marido intuímos que este ano será regido por Xangô e Iemanjá. Será o ano de conquista para pessoas muito corretas, pois Xangô é o orixá da justiça e Iemanjá cuida de valores. Tudo dentro da lei, muito certo. Quem não for assim, não espere muita coisa. Isto foi previsto até o meio do ano, até lá será muito conturbado. As entidades aconselharam evitar cores fortes, temperos e bebidas alcoólicas, porque o período já estará conturbado.  É importante saber o que se está fazendo, ser mais observador.
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DOMINGO, 13 DE NOVEMBRO DE 2011


ENTREVISTA



Um dos mais respeitados pais-de-santo do Brasil, Agenor Miranda Rocha emite opiniões corajosas sobre o candomblé. 
A reabertura dos terreiros de candomblé no feriado religioso de Corpus Christi traz, todo ano, à Bahia um dos mais queridos e respeitados sacerdotes do povo de santo, o oluwô (dono dos segredos) Agenor Miranda Rocha, 93 anos. No último dia 13, ele se dividiu na típlice jornada de visitar o Gantois, a Casa Branca e o Ilê Axé Opô Afonjá.
Poeta, intelectual, escritor, cantor lírico e educador, ele é o responsável pelo jogo que indica os representantes na sucessão para as grandes casas de candomblé da Bahia. Foi seu jogo que nomeou mãe Stella, para o Opô Afonjá, e Tatá, para a Casa Branca. Pelo apartamento de pai Agenor, no Rio, passam, diariamente, dezenas de pessoas, incluindo artistas globais e políticos, que confiam a vida ao seu jogo de búzios.
Natural de Angola, pai Agenor veio para a Bahia com 5 anos de idade. Ainda criança, recebeu, de Eugênia Ana dos Santos, mãe Aninha, a vocação para o candomblé. A vida do oluwô já foi registrada em um livro, de Diógenes Rebouças Filho (Pai Agenor http://www.corrupio.com.br/cat_agenor.htm, editora Corrupio, 1997), e, agora, será tema do documentário Um Vento Sagrado, com roteiro e direção de Walter Pinto Lima e Carlos Vasconcelos Dominguez (este, morto no ano passado).
Nesta entrevista, concedida no último dia 16, antes de voltar para o Rio de Janeiro, pai Agenor fala sobre sua concepção de candomblé, critica o sacrifício de animais, o jogo cobrado e a grande exposição que a religião ganhou atualmente.
P – Quando e como surgiu sua vocação para pai-de-santo?
R – Não sou pai-de-santo, sou zelador-do-santo. O santo é que é meu pai. Eu acho esta nomenclatura (pai-de-santo) muito errada. Eu zelo.
P – Como o senhor vê, então, a utilização da nomenclatura pai-de-santo pelo candomblé?
R – Eu já encontrei isso quando fiz santo. Eu é que não me sinto bem em dizer que sou pai-do-santo. Para eles (algumas pessoas do candomblé), é uma glória dizer isso.
P – Voltando à sua vocação para zelador-de-santo, quando e como ela surgiu?
R – Eu tinha 5 anos. Na verdade, não fui eu quem procurou o candomblé, o candomblé é que me procurou. Minha família era toda católica, apostólica, romana, nunca “assistiu” a um candomblé. Nasci em Ruanda, capital de Angola. Vim para a Bahia com 5 anos. A vocação surgiu desde que eu nasci. Um africano disse isso para minha mãe antes do meu nascimento. Ela não acreditou, mas ele acertou em tudo. Ela me esperava para outubro, ele disse que era para setembro. Eu nasci no dia 8 de setembro de 1907. Disse que eu ia trazer uma mancha vermelha na cabeça. Eu trouxe. Quando chegamos aqui, na Bahia, eu fiquei para morrer. Os médicos desenganaram-me. Minha mãe Aninha, a que fundou o Axé Opô Afonjá, fez o jogo e disse que eu não tinha nada, que era o orixá que iria ser feito. Fez-se o orixá, em 1912, e eu estou aqui.
P – O senhor ocupa um dos mais altos postos no candomblé. Como atua um oluwô?
R – A mando dos orixás. Sem alarde e sem vaidade. Na realidade, o magistério é que foi minha carreira. Trabalhei no magistério 47 anos, e saí com pena. Eu nunca vivi do santo. Eu vivo para o santo. Até meu jogo de búzios, nunca cobrei. Não cobro, porque eu duvido um pouco dessa caridade cobrada. Ela deixa de ser caridade quando é cobrada. Eu sou feliz, os orixás me deram essa missão, mas me deram também uma profissão. Então, não há necessidade de eu cobrar.
P – Nesses seus 93 anos, houve algum fato, alguma experiência que o marcou? No candomblé, por exemplo?
R – Diversos. Teve um episódio na minha casa, no Leme, no Rio, em 1947. Eu sonhei com Xangô me dizendo que estava segurando a casa até eu me mudar, pois a casa iria desabar. Eu mudei às 5 horas. Às 7 horas, a casa desabou. Então, eu tenho que ter amor aos orixás. Não posso vendê-los, me aproveitar.
P – Na Bahia do Senhor do Bonfim, o sincretismo religioso está muito presente. Qual a sua opinião sobre o sincretismo, considerando que o senhor é um zelador-de-santo, filho de pais católicos?
R – Não há crime nenhum no sincretismo, porque, se não fosse o sincretismo, não haveria candomblé hoje. Essa é que é a verdade. As mães-de-santo e os pais-de-santo não querem o sincretismo. Mas tem que haver. Se não fosse o sincretismo, como é que o candomblé iria sobreviver até hoje? Teria morrido. Agora, eles não gostam quando eu falo isso. Mas eu falo o que sinto. Não falo pelos outros, falo por mim.
P – O senhor é devoto de Santo Antônio e de São Francisco de Assis e vai sempre à cidade de Assis, na Itália, venerar São Francisco. Como é que o senhor lida com isso dentro do candomblé? Existe preconceito?
R – Se há preconceitos, é com eles. Eu sou eu. Nunca tive conflito. E, agora, tem mais uma coisa: eu sou do santo, católico e espírita. Assim como na família: nem todos são iguais, mas convivem bem. Não é isso? É uma questão de fé.
P – O senhor tem uma veia poética Sua mãe era cantora lírica e seu pai, diplomata. Como surgiu sua ligação com a poesia?
R – É muito forte. Eu me acho poesia; então, olhando poesia, vou fazendo poesia e me sinto bem. Desde criança já fazia versos. Eu tenho um livro de poesia publicado com o nome de Oferenda. Gravei também um disco de ópera, um de fado e outro de canções napolitanas. Fui cantor. Cantei com Bidu Sayão. Éramos muito amigos.
P – O senhor fez poemas sobre o candomblé?
R – Não! No tempo que eu fiz santo, tudo era segredo. Hoje é que o candomblé está banalizado.
No meu tempo, não tinha nem vaidade nem essa divulgação.
P – Qual a diferença do candomblé do passado para o candomblé atual?
R – Bom, eu costumo, numa frase, mostrar: eu sou do candomblé de morim (pano de algodão muito fino e branco). Hoje, é candomblé de lamê (plumas, lantejoulas). Parece uma escola de samba.
P – O sacrifício de animais, um dos ritos mais comuns e simbólicos do candomblé, é contestado pelo senhor. Por quê?
R – Acho que é uma maldade. Os orixás, que são fragmentos da natureza, precisam de sangue? Matar os animais que representam a natureza? Matar, além de tudo, com uma faca, devagarinho, com cantiga, até chegar em uma palavra para tirar a cabeça do bicho. Não dá! Sou contra a matança. Na vida, tudo evolui com o tempo. O candomblé podia ter evoluído um pouquinho, ser mais moderado. O candomblé, hoje, é um luxo.
P – Quanto à humanidade, que perspectivas há para ela diante das espécies em extinção, do desmatamento e da poluição ambiental?
R – Desse jeito, vamos chegar ao caos. Destruindo a natureza, o homem acaba consigo mesmo. As pessoas deveriam seguir a evolução natural da Terra. Não deveriam ter tanta inveja, tanta sede de poder. Da sede do poder, nasce a inveja, que é um sentimento muito negativo. Destrói uma pessoa. Aconselho às pessoas a não terem inveja e a viver, cada um, com o que Deus lhe deu. Se eu não tenho inveja, quero que as pessoas subam e não que caiam. Cada um tem seu valor.
P – Que lembranças o senhor traz da época de Getúlio Vargas, quando trabalhou como técnico em educação?
R – Muita gente fala mal do Getúlio, mas eu só trago boas lembranças. Sempre me tratou muito bem, com muita amizade. Até mesmo carinhosamente. Então, não posso dizer nada. Trabalhei com ele em 1933, 1934 e 1935. Para mim, Getúlio era muito bom, era meu amigo e, para mim, meus amigos não têm defeitos.
P – Como é que está a situação política do Brasil hoje para o senhor?
R – Não me pergunte isso, porque eu quero sair daqui para o avião. Não quero sair daqui para a cadeia. Se a gente for falar o que sente… Eu acho que o Brasil poderia estar numa situação muito melhor, se nós tivéssemos no alto poder, mais patriotas.
P – O que o senhor está achando do documentário?
R – Quiseram que eu fosse estrela, e Oxalá consentiu.
Gladys Pimentel
Jornal A Tarde
NOTA: Grifos nosso apenas para chamá-lo a atenção ao que este ser especial nos revela.
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DOMINGO, 16 DE OUTUBRO DE 2011


ENTREVISTA PAI JOSUÉ d`'OSUN


Nosso site entrevistou esta semana o Baba-quequerê  Josué d'Òsun, Pai pequeno do Terreiro da Casa Azul em Salvador, Bahia. Pai Josué, como prefere ser chamado, e bisneto de Mãe Creusa que por sua vez é filha da saudosa Mãe Menininha, e estando de visita em nossa cidade e aceitou conceder está entrevista para esclarecer dúvidas e divulgar um pouco do ritual de Candomblé para nossos leitores.

Nilo – Em resumo, como começou seu envolvimento com o Candomblé?

Pai Josué – Em 1962 estive muito doente, tinha 14 anos e estava com tuberculose. Minha família era muito pobre e não podíamos bancar o tratamento na época, então estava esperando a morte. Uma vizinha disse a minha mãe que num terreiro em outro bairro (na Baixa do Sapateiro) tinha um batuque em que uma entidade dava garrafadas pra “fraqueza”. Com pouca esperança, mas com muita fé, minha mãe me levou, mesmo sob protestos de meu pai que era evangélico fervoroso. (Sua igreja não curou. Então vamos tentar outra. Disse ela a ele.) Chegando lá aconteceu o que menos eu ou minha mãe esperávamos. Incorporei assim que botei o pé dentro do barracão. E não saí mas de lá. Fiquei curado em sete dias, fiz minhas feituras, voltei aos estudos, me formei em direito e hoje tenho meu barracão.

N – Quantos terreiros existem em Salvador? E quantos são os filhos de santo?

P.J. – Não sei. Em 1980 a Prefeitura de Salvador junto com a Fundação Pró-Memória contratou o antropólogo Ordep Serra e concluiu um mapeamento na região metropolitana de Salvador eram 1200 terreiros. Hoje são muitos mais, devem passar dos 3000. A Federação Nacional de Tradição e Cultura Afro-Brasileira afirma que, pelo menos, 75 milhões de brasileiros estão ligados direta ou indiretamente a terreiros _ seja como praticantes assíduos, ou como clientes, que ocasionalmente pedem uma benção ou um “serviço” ao mundo dos Orixás. São índices ridículos se comparados as multidões que lotam as praias na passagem do ano para homenagear Yemanjá. Na realidade os próprios filhos escondem sua religião para evitar o preconceito. A própria Mãe Menininha declarou certa vez ao pesquisador do IBGE que era católica Apostólica romana.

N. – Como vc. me explicou, antes de começarmos a entrevista, muitas coisas não podemos publicar, inclusive é proibido fotografar os membros de seu barracão de frente, vc pode explicar como é seu ritual?

P.J. – Como já falei antes sou formado em direito e trabalho em uma repartição pública em minha cidade, meu cargo exige certa descrição e poucas pessoas sabem minha religião, não divulgo por vergonha, mas sim, para proteger minha privacidade e de minha família. Já imaginou um colega de trabalho me pedindo para fazer uns trabalhos no meio do expediente? _Doutor podemos ir à encruzilhada depois de terminar a audiência da tarde.  Na verdade a foto só não pode ser tirada do rosto do médium incorporado. A minha foto nem pensar! Vou explicar como é feita uma festa no barracão. Os alabês começam a tocar seus atabaques às nove da noite. A assistência já esta lotada, mulheres a esquerda e homens a direita, separados para evitar namoro, afinal não é lugar pra isso. Vamos homenagear Xangô. As filhas de santo decoraram o barracão à tarde com bandeirinha na cor do santo (branco e vermelho) e decoramos as paredes com folhas e flores de palmeira de dendê desfiadas. Isso é o que a assistência pode ver. As homenagens já começaram na madrugada com o corte para Xangô, pela manhã as filhas preparam a comida. Durante a tarde foram feitas as oferendas para os santos, e Exu, o mensageiro entre os homens e os orixás, foi despachado. Bom, voltamos à noite. A casa está cheia e os atabaques começam a falar com os orixás. Os filhos de santo entram na roda um a um na ordem do xirê: primeiro, o filho de Ogum, seguido pelos filhos de Oxóssi, Obaluaiê e assim por diante. Cada filho incorpora seu orixá e dançam até que o Pai no Santo autorize, com um aceno, sua saída para serem vestidos pelas equedes. Logo depois eles voltam ao barracão, vestidos com as roupas, guias e enfeites de seu santo. Dançam agora sozinhos uma coreografia que conta a sua origem. Quase meia noite os atabaques tocam para Oxalá, o criador. Saudado Oxalá, é hora da comunhão com os deuses: são servidos os pratos aos participantes.

N. – Explique a “ordem do xirê”?

P.J. Como em tudo o mais, o Xiré ou Siré tem também o seu preceito e existe não só uma ordem a respeitar para convocar os Orixás, como existem palavras e saudações específicas que devem ser ditas para que a convocação dos orixás para o Xirê seja correta. Como em todos os rituais do Candomblé o primeiro a ser convocado é Exu, segue-se depois Ogum e os restantes Orixás na ordem segundo os preceitos da Nação Ketu.

N. – Quantos orixás são cultuados em seu ritual?

P.J. - Na África Ocidental, existem mais de 200 orixás. Mas, na vinda dos escravos para o Brasil, grande parte dessa tradição se perdeu. Hoje, o número de orixás conhecidos no país está reduzido a dezesseis. E, mesmo desse pequeno grupo, apenas doze são ainda cultuados: os outros quatro Obás, Logunedé, Ewa e Irôco raramente se manifestam nas festas e rituais.

N. – Quem são os alabês?

P. J. – Dentro de um barracão cada iniciado tem uma função, alguns nem incorporam, mas servem aos orixás. Vou explicar: os ajudantes sagrados são os ogãs que podem ser Alabês ou Axogum conforme sua função. Alabês são tocadores de atabaques e instrumentos rituais, não recebem santo. Axogum são os responsáveis pelos cortes ofertados aos orixás, não recebem santo. As Equedes cuidam dos orixás incorporados e de seus objetos, não recebem santo. Os Abiãs são os noviços, após iniciados serão filhos de santo. Os Iaôs são os filhos de santo iniciados que já recebem santo. Os Ebômi são Iaôs que já cumpriram as obrigações de sete anos. As Iabassês não recebem santo, são responsáveis pela cozinha do barracão. As Agibonãs são as mães criadeiras que cuidam dos Iaôs durante o ritual de iniciação e não recebem santo. Os Ialaxés zelam pelas oferendas e objetos dos orixás e não recebem santo. Os Baba-quequerês e Iaquequerês são os Pais ou Mães pequenos, ajudam o pai ou mãe de santo no comando do terreiro e incorporam. E por último temos os Baba-lorixás e Ialorixás que comandam o terreiro e incorporam.

N. – Quem pode ser Alabê no seu ritual ou como se escolhe um servidor no barracão?

P. J. – A entrada para o barracão é uma escolha do orixá assim como o cargo que o médium vai ocupar. Normalmente os búzios é que vão dizer isso.  Os que não dão incorporação são escolhidos para servir. Os que dão incorporação passam pelos rituais de iniciação e em seguida fazem suas obrigações.

N. – Quais são os rituais de iniciação?

P. J. – Em nosso ritual o abiã “bola no santo”, ou seja, o orixá se manifesta em sua primeira incorporação, isso acontece normalmente sem aviso, numa festa durante a dança, assim o abiã vai para o ronco e a partir daí começa uma série de rituais de iniciação (bori, orô e saída de iaô). Imediatamente e colocado em seu pescoço um quelê. Enquanto usar o quelê o iniciado deve se vestir de branco, comer com as mãos, sentar-se somente no chão, não pode ter relações sexuais, não pode consumir álcool e só pode comer a comida de seu orixá isso durante um período variável de um a seis meses. Após isso o abiã passa a se chamar iaô e terá que cumprir mais três rituais depois de um ano, três anos e sete anos. Só depois ele pode se candidatar a Ebômi.

N. – E como é o bori, o orô e a saída de iaô?

P. J. – O bori é a cerimônia que reforça a ligação entre o orixá e o abiã. O abiã senta-se numa esteira cercado por alimentos, aves velas e objetos do seu santo. Com ajuda de outros filhos já feitos o pai de santo sacrifica as aves, o sangue serve para marcar o corpo do abiã e banhar as oferendas. A partir daí passa a ser chamado de iaô. Três anos depois ele vai para a segunda cerimônia que é o orô. Por 21 dias o iniciado fica confinado ao ronco conhecendo ali a hierarquia da casa, os preceitos, orações, cânticos, dança, os mitos e suas obrigações com o santo. A cabeça é raspada e marcada com navalha (por estes cortes que o orixá vai entrar). No final o iniciado é banhado com o sangue de um animal quadrúpede que será sacrificado. Depois de sete anos ele faz a cerimônia de saída de iaô. O procedimento não pode ser divulgado então vou contar a saída propriamente dita: Ele se apresenta no barracão por três vezes. Na primeira saída ele vem vestido de branco em homenagem a Oxalá, pai de todos, saúdam o pai de santo, os atabaques e os pontos principais do terreiro em seguida voltam para o ronco. Na segunda saída voltam com roupas coloridas e a cabeça pintada conforme seus santos, dançam e voltam para o ronco. E na terceira e última saída os iaôs incorporam e seus santos anunciam seus nomes. A partir daí passam a se chamar Ebômi.

N. – Todo esse processo é feito dentro do barracão, como é a vida dentro desta comunidade ou “família-de-santo” como você chama?

P. J. – O terreiro ou barracão é um templo e uma morada ao mesmo tempo. Ali vivem mortais que dividem esta casa com os orixás. A arquitetura lembra os egbes africanos (habitações coletivas usadas pelos povos de língua ioruba), a sala principal é o salão onde os mortais e santos se encontram para as festas. O resto são salas, cozinha e quartos onde alguns são para mortais e outros para santos. Nos quartos de santo ficam os pejis e assentamentos, ali são feitas as oferendas. Dependendo da quantidade de pessoas a casa vai crescendo, em algumas existem somente dois quartos para orixás em outras podemos encontrar até oito ou mais destes quartos. O ronco é um quarto especial para as feituras de iniciados ficando próximo do salão para que quem estiver lá possa ouvir e sentir tudo que acontece no barracão. O melhor aprendiz é aquele que presta atenção a tudo e não faz perguntas. E, é claro, no quintal existem casas menores de outros orixás, a de Exu fica sempre próximo a porta.

N. – Anteriormente você falou em sacrifícios e oferendas para os santos, é normal isso no barracão?

P. J. – O sacrifício é uma oferenda ao orixá feita somente em casos específicos, numa festa ou homenagem e nunca é exposto ao público. Somente alguns membros do barracão podem ver ou ajudar. Numa festa sempre são sacrificados dois animais: um de duas patas para Exu e um de quatro patas para o orixá homenageado. O  animal é morto com um golpe na nuca para evitar sofrimento, depois são cortados a cabeça e os membros em seguida ele deve sangrar até a última gota aí sim será destinado a oferenda. As partes cortadas são juntadas a alguns miúdos e colocado num alguidar. O sangue recolhido é colocado em uma quartinha e será derramado no assentamento do santo. O que sobrar será oferecido no jantar de confraternização após a festa. Sem esquecer-se da comida de Exu, afinal ele é o mensageiro, encarregado de convocar o orixá para a festa, então devemos agradá-lo oferecendo um padê feito de farofa com dendê e uma bebida (cachaça ou mel). Não fazemos sacrifícios desnecessários como alguns rituais fazem para diversos fins, já vi sacrifícios de 14 galinhas para tentar trazer um marido de volta ao casamento.

N. – Por falar nisso, qual sua opinião sobre essa chamada Umbanda moderna?

P.J. - Candomblé não é Umbanda. A Umbanda é a mistura do Candomblé com o Espiritismo. No Candomblé não existe santo superior ou inferior, na Umbanda as entidades são agrupadas em espíritos mais baixos e espíritos evoluídos. Na Umbanda é feito o desenvolvimento espiritual dos médiuns para quando incorporados darem passes e consultas, no Candomblé louvamos os orixás que incorporam para fortalecer a energia que protege o terreiro e seus membros. Na iniciação no Candomblé a recolhida dura de sete a vinte e um dias é o sacrifício dos animais é obrigatório e devesse obedecer a rígidos preceitos que vem de pai para filho. Na Umbanda moderna, alguns terreiros nem fazem uma iniciação, não consultam os búzios, alguns recolhimentos duram um ou dois dias, o sacrifício não é necessário, conheço pessoas que entraram em terreiros de Umbanda somente para “dar uma olhadinha” e um ano depois são Babalorixás. Muitos não respeitam os preceitos sagrados, bebem as vésperas de ronco e depois da saída do ronco fazem festas homéricas com, é lógico, bebedeiras homéricas. Já vi em alguns terreiros violões e cavaquinhos junto com os sagrados atabaques promovendo rodas de samba. Existe hoje uma falta de respeito muito grande a Umbanda criada no Brasil no tempo da escravidão e até mesmo a Umbanda moderna (referindo-se a criada por Zélio de Morais e o Caboclo das sete Encruzilhadas).

N. – Aqui em Santa Catarina em sua visita, qual foi a sua impressão com referência as religiões Afro-Brasileiras?

P. J. – Visitei diversos terreiros incognitamente (realmente não sei nem como você soube que eu estava na cidade – risos) e o que vi foi simplesmente uma distorção terrível de diversos rituais, tanto de Candomblé como de Umbanda e de Kardecismo.  Barracão de Candomblé com Pomba Gira dando show de dança, a Umbanda de Almas e Angola criada por Ida completamente diferente do que ela deixou de herança (conheci o Ritual Almas e Angola no rio de Janeiro), Caboclo dando gritos de guerra e imitando pássaros em mesas de linha branca. Absurdos que são suportados pelos tais Zeladores da Umbanda Moderna. Mais por outro lado encontrei terreiros muito sérios que seguem os preceitos quase completamente. Rituais que vem de geração em geração sem grandes modificações, achei terreiros de Umbandomblé que são mais perfeitos que os que se dizem puros. Só lamento ter encontrado tanta discriminação, mistificação e falta de respeito aos sagrados orixás.

N. – o que você tem a dizer sobre o Umbandomblé?

P. J. – É muito complicado para alguns ou muito simples para outros. Em minha opinião particular se o zelador se propuser a seguir este tipo de ritual ele tem que ser extremamente estudioso do assunto. Não se podem misturar duas religiões sem saber o que está se fazendo. Infelizmente, a maioria destes Zeladores não sabe nem mesmo que está praticando Umbandomblé. Somente seguem o que aprenderam com seus mestres ou que viram fazer em outros terreiros. Um exemplo é o Santo vestido, não se pode colocar um Santo vestido dentro de um barracão, somente numa roça. Mas, em contrapartida, muito tem desenvolvido uma nova forma de ritual que tem dado certo, com resultados benéficos para seus seguidores, infelizmente são poucos. A maioria tem “inventado” normas, preceitos e formas nada convencionais para praticar a religião conforme seu próprio conhecimento limitado. Muitos nem mesmo sabem abrir um Ifá para saber o santo das pessoas que iram ingressar no terreiro, mas cobram para jogar e quase sempre acabam criando divergências entre os próprios filhos de santo.

N. – O Ifá é a única maneira de saber qual o Pai de cabeça?

P. J. – Vida e morte estão no Ifá. Nada que se refira a deuses e ao futuro pode ser dito sem consultar o Ifá. Ele revela o santo de cada pessoa e a solução dos problemas de cada um. Para entender o Ifá o zelador tem que saber pelo menos 300   lendas que traduzem a mensagem do orixá, saber contar o número de conchas viradas abertas ou fechadas, tem que ter uma intuição muito apurada, até mesmo onde as conchas caem ou o jeito que caem. Se o búzio cair próximo a uma moeda colocada na mesa, pode indicar problemas com dinheiro. Todo o conhecimento é adquirido oralmente, não existe livro que ensine a jogar búzios. Isso tem um custo, o orixá vai cobrar pela consulta, mas não em dinheiro, sempre uma obrigação será pedida. Vejo muitos Zeladores hoje, que mal sabem quem é seu próprio orixá de cabeça, jogando búzios e cobrando em espécie. Lembro a eles que isso não é brincadeira.

N. – Qual sua mensagem para os seguidores dos rituais Afro-Brasileiros?

P. J. – Axé. Pratique a caridade, seja humilde, não seja vaidoso, desta vida nada se leva somente a certeza de dever cumprido. E o dever de todo filho de santo é cultuar seus orixás sem vaidade ajudando a quem for sem olhar quem é. Estudem, leiam, pratiquem. Aprenda com os mais velhos as sabedorias de seus ancestrais. Seja qual for seu ritual, sua linha ou seu grupo, esteja sempre aberto a novas coisas sem deixar que as tradições e preceitos morram no esquecimento. O mesmo Ogum que atravessou a Atlântico à décadas atrás continua vivo em nossos barracões e sua sabedoria não mudou com o passar do tempo nem o respeito que devemos ter a ele. Não transforme o orixá em personagem de ficção. Ele está vivo dentro de nós para sempre.

Notas: Como foi citado acima está entrevista não tem fotos a pedido do próprio entrevistado. 
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Entrevista com Nei Lopes


O escritor e compositor popular Nei Lopes critica o afastamento de setores da umbanda das raízes africanas. "Essa umbanda não usa tambores e se pretende esotérica", diz. "É como se seus praticantes dissessem: 'Essa coisa de tambor, sacrifícios de animais, isso é coisa de selvagens! Nós somos civilizados'. Nessa oposição entre 'selvagem' e 'civilizado' é que está o racismo". Nei Lopes é o autor da "Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana" (Selo Negro Edições).
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Folha- Como analisa a formação da umbanda?
Nei Lopes -
 O mito de origem da umbanda, na versão que tem como protagonista o médium Zélio de Moraes, é exemplar. Ele evidencia a busca de inserção dos despossuídos da sociedade brasileira no espaço religioso.Todo mito tem um fundo de verdade, que os eruditos chamam de "mitologema"; e, na história da umbanda, esse fundo é o episódio do médium Zélio. Mas antes já havia, além dos calundus coloniais, que não tinham organização social, comunitária, os candomblés, organizados, como se sabe hoje, desde antes de 1850. Na virada para o século 19, a ialorixá baiana Mãe Aninha vinha de vez em quando ao Rio, onde inclusive fundou, por volta de 1906, uma filial de sua "roça", o Opô Afonjá, que funciona até hoje em Coelho da Rocha, São João de Meriti [Baixada Fluminense]. E a umbanda, herdeira direta de cultos bantos como o da cabula, cresceu certamente sob a influência desse prestígio do candomblé baiano, incorporando as figuras dos orixás jeje-nagôs e outros elementos. Mas o que fundamentalmente distingue a umbanda é o culto aos pretos-velhos, que não existem no candomblé. E esses pretos-velhos são representações de espíritos familiares bantos, da área de Angola, Congo e Moçambique (África centro-ocidental e oriental), daí seus nomes: Vovó Conga, Pai Joaquim de Angola, Tia Maria Rebolo, Pai Joaquim de Aruanda. O candomblé vem do Benin, da Nigéria, da África ocidental.
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Folha- Como o sr. se define sob o ponto de vista religioso?
Lopes -
 Minha mãe recebia uma preta-velha, mas não era umbandista. Nós tínhamos lá em casa nosso culto doméstico. Hoje eu cultuo orixás. Mas não sou candomblecista, como aliás já fui. Eu me dedico à forma de culto que em Cuba se conhece como santeria, que inclusive já tem muitos adeptos no Brasil. E cultuo esses orixás na minha casa. A definição, então, não é fácil. E por isso eu proponho que o IBGE inclua tudo na rubrica "religião africana", ou "religião de matriz africana", onde a umbanda, por ser cada vez mais sincrética, talvez já não caiba mais.
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Folha- Qual é a diferença que o sr. distingue entre o candomblé e a santeria cubana?
Lopes - As diferenças são poucas, mas significativas. Restringem-se quase exclusivamente a particularidades litúrgicas, uso de instrumentos (aqui atabaques daomeanos, percutidos entre as pernas do tocador; lá, batás nigerianos, levados a tiracolo); diferenças nos elementos que compõem os assentamentos dos orixás etc. E é tudo uma questão de procedência: o candomblé da Bahia é basicamente um produto de Quêto, um reino localizado no atual Benin, antigo Daomé; e a santería cubana vem de Oyó, um outro reino, de onde parece ter vindo, também, o xangô de Pernambuco, que guarda muito mais semelhanças com a santeria que com o candomblé, principalmente no destaque que dá ao culto de Orumilá ou Ifá, o grande orixá do saber, do conhecimento, dono do Oráculo, em torno do qual gravita todo o conhecimento sobre os outros orixás iorubanos (nagôs, lucumis, ijexás etc.), sua mitologia e a liturgia do seu culto.
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Folha- A umbanda aparentemente vem perdendo espaço para outras religiões. O sr. tem essa percepção?
Lopes -
 Todas as religiões de matriz africana vêm perdendo espaço para a truculência neopentecostal. Truculência que chega à agressão física, como na Bahia.
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Folha- Muita gente que freqüenta centros não se declara umbandista. Por que será? Por medo? Vergonha?
Lopes - Essa ocultação é conseqüência do racismo brasileiro. A maioria das pessoas tem vergonha de assumir alguma coisa que remeta à África, à escravidão. Cultura negra só se for desafricanizada... é aí que a gente chega a uma coisa interessante. Existe uma vertente da umbanda que inclusive nega a origem africana da religião, buscando suas raízes na Índia. Tentam até provar que o nome umbanda (que deriva do quimbundo mbanda, ritualista, curandeiro) vem do sânscrito. Essa umbanda não usa tambores e se pretende esotérica; e é ela que vem se expandindo pela América do Sul e pelo mundo. É como se seus praticantes dissessem: "Essa coisa de tambor, sacrifícios de animais, isso é coisa de selvagens! Nós somos civilizados". Nessa oposição entre "selvagem" e "civilizado" é que está o racismo. Então, a intenção dos espíritos acolhidos pelo médium Zélio Moraes há cem anos parece que está se frustrando.

MARCELO BERABA
da Folha de S.Paulo, no Rio

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DIFERENÇAS ENTRE A RELIGIÃO DE UMBANDA E A RELIGIÃO DE CANDOMBLÉ


O objetivo deste texto é, de maneira simples e direta, demonstrar as diferenças existentes entre a Religião de Umbanda e a Religião de Candomblé.

Umbanda e Candomblé são religiões extremamente distintas. Claro, possuem alguns elementos em comum, como por exemplo a devoção aos Orixás, o uso de miçangas e atabaques. Entretanto, as diferenças são muito maiores do que as semelhanças.

Ressalta-se, porém, que essas diferenças não impedem o respeito que devemos ter com nossos irmãos Candomblecistas, assim como devemos respeitar as demais religiões. E começamos a respeita-los quando não usamos de seus elementos sem fundamento, sem conhecimento e sem preparo.

Infelizmente vemos por aí pessoas que, por ignorância, acabam colocando as duas religiões em um mesmo “panelão”, desvirtuando, ao mesmo tempo, as duas crenças.

Umbanda e Cancomblé comparam-se ao Cristianismo e o Islamismo. Possuem fundamentos, ritos, visões, interpretações completamente diferentes.  É impossível imaginar um Imam (sacerdote mulçumano) realizando um batismo em nome de Jesus Cristo. Ou, ao revés, um padre católico reverenciando Maomé. O mesmo se dá entre essas duas religiões afro-brasileiras.

Não se imagina um Pai de Santo da Umbanda fazendo raspagem e bori, dando iniciação no Candomblé a uma pessoa ou dando-lhe o título de Babalorixá. Assim como é inimaginável (apesar de existir casos, infelizmente), a realização de rituais de Candomblé com “entidades” de Umbanda no comando, para uma suposta iniciação na Umbanda.

Tais práticas são ultrajantes às duas religiões. As duas possuem seus próprios fundamentos e ritos, não havendo qualquer necessidade de serem mescladas.

As diferenças entre essas duas Religiões começam em sua base.

A Umbanda é uma religião brasileira, nascida em 1908, por meio do Médium Zélio Fernandino de Moraes e de seu guia, o Caboclo das 7 Encruzilhadas. É uma religião que, rompeu com o Espiritismo, apesar de trazer  ainda consigo alguns de seus elementos, e absorveu também elementos das crenças indígenas, católicas e africanas.

O Candomblé, (apesar da forma com que conhecemos exista apenas no Brasil), é oriundo da junção das nações trazidas da África pelos escravos. Ou seja, tratam-se de cultos Africanos, dedicados aos Orixás, Nkises e Voduns (Ketu, Angola e Jeje). Dessa maneira, as cantigas, os rituais, as rezas e oferendas, são as mesmas utilizadas pelos ancestrais africanos outrora.

A Umbanda trabalha com espíritos, os quais são chamados de guias. São entidades que trabalham na energia do Orixá. São falanges de Caboclos, Pretos-Velhos, Crianças, Baianos, Boiadeiros, Ciganos, Marinheiros, Exus e Pombogiras. São essas as entidades que comandam a gira, que realizam os amacis, batismo, cruzamentos, etc. Além disso, tais entidades, dão passes, realizam curas, descarregos, falam e se utilizam de elementos como o fumo e o álcool.

No Candomblé não existe a manifestação de espíritos. Nessa Religião, os espíritos são chamados de Eguns, e são excluídos das chamadas rodas. (existem algumas casas que possuem o fundamento de Baba Egungun, ritual onde se manifesta os ancestrais). Todavia, o que se manifestas nas sessões de Candomblé são as energias dos Orixás. Tais energias fazem com que o iniciado, chamado de Iyaô entre em “transe”. Todavia, esse “transe” é bem diferente da chamada incorporação existente na Umbanda. Além disso, o iniciado quando manifestado pelo Orixá apenas dança seu ritmo. Não fala, não fuma, não bebe, não dá consultas, etc. Apenas chega, reverencia seus Babas e dança suas cantigas, nada mais.

Na Umbandaos toques de atabaque são realizados com as mãos e são acompanhados por cantos em português. Ora, se nossas entidades falam o português, porque iremos chamá-las em outras línguas? Seria no mínimo, uma falta de respeito! O ponto cantado, nada mais é que uma oração cantada, devendo ser cantado com todo o respeito, sabendo o por que de cada palavra. São cantos de chamada, de reverência, de trabalho e de subida.

No Candomblé, os toques variam de acordo com a nação. Se for Ketu, os toques serão entoados com toques de varetas (Aguidavi), acompanhados por cantigas no dialeto Yorubá, língua daquelas divindades. Na nação Angola, o toque é realizado com as mãos, acompanhada por cantigas no dialeto Bantu. Na nação Jeje, os toques também são realizados com as mãos, e as cantigas são feitas em um de seus dialetos (Axantis, Gans, Agonis, Popós, Crus, etc.). São cantigas que fazem referencias aos itans, ou seja, lendas sobre os Orixás, Nkises e Voduns.

A Umbanda trabalha com 9 Orixás, os quais estão distribuídos na chamada 7 Linhas de Umbanda. São eles: Oxalá, Ogum, Oxossi, Xangô, Iemanjá, Oxum, Iansã, Nana Burukê e Obaluaê/Omulú. Vale lembrar que na Umbanda não existe incorporação de Orixás, mas sim, de espíritos e falangeiros que trabalham na sua energia. 

O Candomblé Ketu, reverencia no mínimo 16 Orixás, chegando alguns há 21 e até 72 Orixás. Na nação Jeje e na Angola, os Voduns e Nkises também passam de 20.

O Candomblé Ketu trabalha com as chamadas “qualidades” de Orixás, como por exemplo, Oxalá que possui as qualidades de Oxalufã (velho) e Oxaguiã (moço).

A Umbanda não possui qualidades de Orixás.

O Candomblé possui suas cores e interpretações para os Orixás. A Umbanda possui outras cores e interpretações.

sacerdote de Umbanda é chamado de Pai de Santo, Pai de Terreiro, Cacique, ou simplesmente Dirigente.

sacerdote de Candomblé é chamado de Babalorixá,alguns possuem o título de Babalaô. As mulheres são chamadas de Yalorixá. Só posem utilizar esses títulos que de fato teve iniciação no Candomblé e passou pelas raspagens, boris, etc.

Esses são apenas algumas das diferenças. Como se pode perceber, as duas possuem uma estrutura, organização e rituais completamente distintos. Por isso nós, Umbandistas, devemos zelar pela pureza de nossa fé, evitando a introdução de elementos que não condizem com nossa religião. Assim também, os Candomblecistas, devem pregar a pureza de seu culto, evitando a mesclagem indevida e o desvirtuamento do culto milenar.

Para reforçar ainda mais as diferenças existentes entre essas duas religiões, o Blog realizou uma entrevista com Babalorixá Rafael d’Oxalufã.





1) Pai Rafael, antes de ingressar no Candomblé quais religiões você freqüentou?
R: Catolicismo - Kardecismo - Umbanda - Candomblé.

2) Algumas dessas religiões possuem semelhanças com o Candomblé? Em caso positivo, quais?
R: Sim, principalmente o kardecismo e Umbanda, pois tem filosofias parecidas.

3)Onde você realizou sua feitura?
R: Na cidade de Rio de Janeiro/RJ na casa da Iyalorixa Kita de Oya

4) Com relação a Umbanda, na sua opinião, quais são as principais diferenças existentes entre ela e o Candomblé?
R: Umbanda é um culto direcionado aos espíritos, ou seja, seres que já viveram no mundo material e hoje retornam para cumprir uma missão. Já o Candomblé é um culto às Divindades, aos encantados que chamamos Orixás. São na verdade, forças da natureza.

5) O que são e quais são as nações do Candomblé? Quais as diferenças e semelhanças existentes entre elas? 
Nações significam de onde aquela raiz africana é provinda, de que região da Àfrica veio, pois a Africa é um continente divido por muitos dialetos e várias
culturas diferentes. As Nações mais comuns aqui no Brasil são KETU, ANGOLA,
JEJE, AFON. A partir destas nações surgiram outras, mas estas são as principais.

6) Qual a sua nação?
R: KETU   

7) Para o Candomblé, o que é um Orixá/Nkise/Vodun?
R: Orixa tem significado na própria palavra: ORI = CABEÇA   AXÉ = FORÇA
ORIXA = CABEÇA DE FORÇA. Na verdade Orixa, Vodum, Nkise representam a mesma coisa, somente em línguas diferentes.
Orixá é um centro de força extraída da natureza e encaminhada para nosso caminho. É um Deus, uma luz.

8) Quantos e quais Orixás são cultuados em sua nação?
R: Dentro da nossa nação são cultuados muitos Orixas, mas podemos
aqui citar os 16 principais: ESHU, OGUN, ODÉ, OSSAIN, LOGUNEDÉ,
OMULU, OSUMARE, SANGO, OXUM, OYA, EWÁ, OBÁ, NANÃ, IROKO,
IYEMONJA, OSALA.

9) Todos esses Orixás que integram a panteão de sua nação, podem ser tidos como Orixás da Umbanda? 
R: Não. Não podem. 

10) A manifestação e o desenvolvimento mediúnico são as bases da Umbanda. Pois é através da mediunidade de incorporação que os espíritos deixam suas mensagens, dão seus avisos, conselhos, realizam seus trabalhos, etc. No Candomblé, há manifestação mediúnica? Em caso positivo, essa manifestação é idêntica a que ocorre na Umbanda?

R: No Candomblé ocorre um transe, no qual somos de certa forma 
possuídos pela energia de nosso Orixá, mas esta manifestação é
bastante sutil, pois é apenas uma energia encantada.
Diferente da Umbanda, em que ocorre uma incorporação de um
espírito.

11) O Orixá que se manifesta no Iyaô durante a roda de Candomblé é um espírito?
R: Não, trata-se apenas de uma vibração de seu Orixá.

12) Quando o Iyaô está manifestado pelo Orixá, ele age como as entidades da Umbanda? (Fala, dá passe, risca ponto, bebe, fuma, etc).
R: Não, apenas dança a seu ritmo batido no tambor. Beber e fumar, por exemplo, são situação que nós humanos utilizamos, os guias de umbanda por terem vividos neste mundo conhecem destas praticas, por isso quando estão incorporados fazem uso desses elementos. Já os Orixás não, pois eles não tem esse conhecimento. Se algum dia ver um Iyaô de Nação " em transe" fumando ou bebendo, pode se ter a clara certeza que Orixa de nação não esta ali e sim, o próprio Iyaô satisfazendo seu desejo.

 13) Como são chamados os Espíritos no Candomblé? Eles participam das rodas?
R: No Candomblé os espíritos são chamados Eguns. Os Eguns tem um culto especifico chamado “Egungun”, que é realizado em determinadas casas, onde eles são cultuados. Egun não participa dentro da roda de Candomblé, ele apenas é tido como um antepassado, ancestral, e por isso é respeitado.
  
14) O que é a iniciação no Candomblé?
R: Iniciação é um ritual em que a pessoa passa para poder receber a energia de um Orisa.

15) Quando que o iniciado ganha o título de Babalorixá ou Yalorixá? Quanto tempo leva suas obrigações até que esteja “pronto”?
R: O iniciado se torna Babalorixa ou Iyalorixa quanto ele completa 7 anos após ter sido iniciado dentro da religião, ou em casos específicos, onde a pessoa tem uma missão especial e a mando do próprio Orixá esse tempo é antecipado, mas mesmo assim, tem que ter passado pelo ritual da iniciação e ter pelo menos 01 ano dentro da religião.
  
16) O que é Bori? A Umbanda também pode dar bori em uma pessoa?
R: O bori, significa EBO = OFERENDA  ORI = ORISA RESPONSÁVEL PELA CABEÇA
Então, bori significa dar comida a orisa da cabeça.
A Umbanda não dá bori, pois não dá culto a ORI.

17) Qual a finalidade do jogo de búzios? Podem existir fundamento de Ifá na Umbanda?
R: O jogo de búzios é meio que utilizamos para se comunicar com os
Orixás. A Umbanda não possui fundamentos com Ifá, pois a comunicação
se dá diretamente com os guias, quando estão incorporados.
  
18) Como são tocados os tambores na sua nação?
R: São tocados de acordo com cada orisa, pois cada um possui seu
ritmo.
  
19) Qual o dialeto que é usado nas cantigas?
R: É utilizado o Yorubá
  
20) Na sua opinião, pode existir Candomblé que tenha cantigas em português, igual as da Umbanda?
R: Na Nação Angola, onde se cultua os Nkises, existe uma “qualidade” de culto em que as cantigas e rezas são realizadas, em grande parte, em português. Isso devido a colonização portuguesa naquele país.
  
21) Seguindo a mesma linha de raciocínio, para você, há fundamento para que terreiros de “Umbanda” cantem em dialeto?
R: Não. Não há nenhum fundamento, pois a Umbanda deve louvar os guias
espirituais que trabalham naquele terreiro. Afinal os guias são entidades
que se comunicam através da língua portuguesa, qual seria o motivo de se cantar em outra língua?

 22) Na sua opinião, é possível um terreiro “misturar” as duas religiões, ora batendo para um, ora para outro? Ou pior, batendo os dois ao mesmo tempo, com sessões com mesclam pontos em dialetos e pontos em Yorubá?
R: Não, pois Umbanda e Candomblé são religiões muito diferentes. Quem conhece
destas religiões, jamais irá fazer qualquer tipo de mistura. Pois Orixá, ser divino e encantado, jamais se manifesta onde tenha Eguns (espíritos). Tratam-se de forças praticamente opostas.


23) Qual sua opinião acerca de terreiros em que o Pai/Mãe de Santo é formado na Umbanda, mas, mesmo assim, realizam raspagem, dá bori, canta em dialeto, introduz outros orixás, etc.? Quais as conseqüências desses atos, espiritualmente falando? (Tanto para o sacerdote, quanto para os filhos).
R: As conseqüências são muito grandes. Pois, a Umbanda tem um segmento
muito diferente do Candomblé, afinal se o pai ou a mãe de santo segue
Umbanda, deverá se ater aos rituais de Umbanda. Raspagem, bori, etc
são rituais específicos do Candomblé, só podem utilizar-se deste recurso
quem passou por ele e tem autonomia para executa-lo, afinal para estes
rituais existem rezas e atos sagrados, que somente quem já passou sabe.


24) É possível alguém que nunca freqüentou efetivamente uma roda de santo, formar uma pessoa no candomblé, dando-lhe, inclusive, o título de Babalorixá ou Babalaô?
R: Jamais.

25) Qual a finalidade do Adjá? Quem pode utilizá-lo?
R: O Adjá é um instrumento sagrado, usado para chamar o Orixá. Quem utiliza é o Baba
ou a Iya e os cargos femininos da casa.

26) Existe fundamento para se usar Adjá na Umbanda? Uma entidade (caboclo, preto velho, baiano, etc.,) pode “bater” Adjá para um Orixá?
R: Não, pois o adja é utilizado para chamar os encantados. A Umbanda
possui seus próprios meios para invocar seus guias, tais como sineta, palmas, etc.

 27) Em sua nação é utilizado Pemba? Para quê?
R: Não

28) No Candomblé há pontos riscados?
R: Não

29) O que é um Erê?
R: É uma manifestação de um ser infantil, que representa uma alma
pura. É uma espécie de porta voz, mensageiro do Orixá. É por meio do Erê que o Orixá manda seus recados ao Iyaô. Ele é representado por uma criança, para demonstrar a inocência.
  
30) Há semelhanças entre o Erê e os chamados “Cosminhos” da Umbanda?
R: Existe sim, uma pequena semelhança entre Erê e cosminho. Ambas são entidades crianças. Todavia o Erê é incumbido de representar o Orixá, pois como o Orixá é uma energia, então o Erê que traz as mensagens, recados, etc., diferentemente dos chamados “Cosminhos” ou crianças da Umbanda, que são entidades como as demais.
  
31) O Exu do Candomblé é o mesmo Exu que se manifesta na Umbanda?
R: Não, no Candomblé temos o Orixá Exu, que tem as mesmas qualidades
de outro Orixá dentro do panteão, diferente da Umbanda ,  em que o Exu é tido
como entidade da esquerda. O Exu é o mensageiro dos Orixás, mas ele não
incorpora. Somente recebe as energias do Orixá Exu aquele que é feito para
ele.

 32) Qual a serventia da Menga ou Ejé para o Candomblé? Quem realiza a imolação?
R: O ejé dentro do nosso culto alimenta o Orixá, tornando a sua energia mais
palpável e assim tornando ele pertencente ao nosso mundo. Pois o Orixá é
uma energia que está na natureza. Após a pessoa passar pelo ritual da iniciação
este Orixá se torna parte de nosso mundo físico, ele possui um corpo, e precisa ter
energia física para poder se manter ao nosso lado e assim seguir ao lado do seu
protegido na caminhada terrena. Quem faz a imolação é o Ogã com um cargo
especifico chamado AXOGUN.

 33) Na sua opinião, há fundamentos para imolação de animais, inclusive de quatro patas, para Orixás dentro da Umbanda?
R: Na Umbanda não vejo necessidade, pois ao contrário do Candomblé, os espíritos da Umbanda já passaram por este mundo e estão se desvinculando dele e o ejé os aproxima mais do mundo físico.


34) Deixe sua mensagem final acerca da importância dos fundamentos de cada religião e os perigos que existem em misturá-las.
R: Toda religião possui seus encantos e belezas, mas para podermos caminhar dentro
desta beleza e encanto é preciso saber, conhecer e caminhar dentro daquilo que ela prega, sem mistificar ou denegrir. E o fundamental de tudo, todas tem o mesmo objetivo, que é chegar a DEUS  e ajudar ao próximo.

Quem quiser saber mais sobre o Candomblé ou perguntar algo ao Pai Rafael, pode fazer diretamente pelo seguinte endereço: faelmfa@hotmail.com