Enquanto aguardava a chegada da namorada em sua casa Bruno, cansado pelo dia de trabalho intenso que tivera, cochilou no sofá.
Enquanto isso Júlia embarcava em condução que tinha como destino a casa do seu namorado Bruno.
Ela estava muito ansiosa para chegar ao encontro que combinara com ele, entretanto sua ansiedade não era maior do que a notícia que daria a ele: ela estava grávida.
Só o que Júlia não sabia é que seu namorado intuitivamente já tinha uma noção de qual conversa ela queria ter com ele e, apesar de freqüentar um terreiro de umbanda há nove meses, Bruno estava decidido que se sua intuição estivesse correta ele a pediria que interrompesse o desenvolvimento da gestação.
Bruno a amava verdadeiramente, mas era filho de uma família da alta sociedade paulistana; tinha vinte e três anos de idade e um enorme potencial para fazer o bem dentro de si, mas era muito inseguro e preocupado com o que sua família faria se descobrisse a gravidez de sua amada.
Ele era descendente de uma família de médicos, mas trabalhava como advogado havia dois anos. Era um moço esforçado mesmo, que nunca quis utilizar o nome e o prestigio da família para obter qualquer tipo de vantagem em seu ramo de profissão.
Havia quatro meses que o caboclo a quem Bruno cambona dissera-lhe que se preparasse para tomar uma nova direção em sua vida, por que em breve um vento bom logo iria soprar no caminho dele para indicar novos rumos.
Inclusive na época do ocorrido Bruno não entendera muito bem o recado e levou sua vida calmamente até ali naquele dia em que sua amada Eliana solicitara o encontro na casa dos pais dele.
Pelo vidro da janela do seu quarto Bruno via que caia uma chuva torrencial, mas mesmo com todos os raios e trovões ele sentia que a tempestade climática não era maior do que aquela que desabava em seu íntimo.
Aflito pela intensidade de suas emoções ele resolveu sair de dentro da fazenda dos seus pais e respirar um pouco de ar puro. O relógio marcava quinze horas de um dia de novembro do ano de 1910, mas as nuvens estavam tão carregadas e enegrecidas que já aparentava ser quase noite naquele horário; justamente por este fato foi que ele acendeu a lamparina antes de sentar-se na rede.
Algo como um que desconhecido hipnotizava-o fazendo com que olhasse incessantemente para os raios que rasgavam o céu. A cada relâmpago que clareava o firmamento ele sentia como se um peso enorme saísse de seu peito.
Fascinado pelos raios ele levantou-se da rede e foi tomar um banho de chuva. Os pingos da chuva desciam grossos e pesados, mas em seu corpo não causavam nenhum tipo de dor ou incômodo: só um grande alivio em sua ansiedade.
Encantado que estava pela chuva ele foi atraído até um pequeno bambuzal existente no local e lá, inexplicavelmente, ajoelhou-se ao solo; de repente, como se viesse de dentro do bambuzal, apareceu uma linda mulher com cabelos ruivos como fogo e vestes estranhas que disse a ele:
─ Nós pedimos que você se preparasse antecipadamente a este evento.
─ É verdade!
─ Você se preparou?
─ Racionalmente sim,mas não de forma emocional.
─ Em você vejo dúvidas, o que deseja tanto perguntar-me?!?
─ Será que eu enlouqueci?
─ Por que você diz isto?
─ Ora, mas isto é óbvio! Parece que estou louco, em alguma espécie de pesadelo.
─ Mas por que você diz isto?
─ Estamos no ano de 1997 e, no entanto, aqui nesta localidade é 1910, isto não é loucura? Outra coisa estranha é que eu moro no Rio de Janeiro, mas aqui estou em São Paulo, como pode ser isto?
─ Atualmente encontramo-nos no ano de 1997 e você efetivamente reside no estado do Rio de Janeiro.
─ Aqui onde estamos os meus pais moram neste fazendão e, na realidade, eu moro mesmo no meu barraquinho no Vidigal, como é que pode?
─ Você não deve preocupar-se com estes fatos que você vê como discrepância, mas sim com aquilo que é principal em sua vida.
─ Como assim?
─ O que você vê em comum tanto na sua vida no Rio quanto aqui em São Paulo?
─ Deus do céu, parece papo de doido, não parece?
─ Responda-me, por favor!
─ Tudo bem, desculpe! Bom, a única coisa igualzinha no Rio e aqui em Sampa é o fato de que eu vou ser pai.
─ Exatamente!
─ Só que na “real”, no Rio de Janeiro, a minha namorada não se chama Eliana: o nome dela é Júlia!
─ O nome também é algo secundário, procure focar no que deve ficar guardado em ti nesta experiência.
─ Mas eu estou focado!
─ Será que está mesmo?
─ Claro!
─ Mas você não está esperando a Júlia chegar à tua casa para um encontro que ela mesma solicitou?
─ Estou.
─ Você, intuitivamente, sabe que ela lhe dirá neste encontro que está grávida, certo?
─ Correto!
─ E você hoje, como há oitenta e sete anos atrás, não está pensando em pedir que ela aborte?
─ Deus, como a senhora pode saber disto!??!
─ Você é umbandista Bruno, você sabe!
─ Espere ai, então quer dizer que a senhora é uma entidade que milita na umbanda! É isto?
─ Exatamente!
─ Agora entendo porque os meus joelhos se dobraram diante da senhora antes mesmo que eu soubesse deste fato, não é isto?
─ Exatamente!
─ Bem, se nós na realidade estamos em 1997 e aqui estamos em 1910, então isto quer dizer que este tal bruno ricaço de 1910 sou eu mesmo, o pobretão de 1997, não é isto?
─ Exatamente!
─ E este tal Bruno era mesmo umbandista?
─ Não, o umbandista há nove meses é você Bruno! O fato de você vê-lo como umbandista se deve pela necessidade da prática da caridade para a evolução do seu espírito.
─ Como assim?
─ Você enquanto o Bruno do passado deveria ter advogado também gratuitamente em favor do próximo; atualmente você não é o advogado abastado de outrora, mas deve buscar a evolução do teu espírito pela prática da caridade através da religião de umbanda.
─ E esta Eliana de 1910 é a minha Júlia de 1997, não é isto?
─ Exato, assim como o seu filho abortado há oitenta e sete anos é o mesmo que agora pede oportunidade para reencarnar.
─ Meu Deus, quanto tempo perdido!!!
─ Hoje você, umbandista, vê como tempo perdido, já em outra época você não pensava desta maneira.
─ É verdade, graças a Deus que hoje eu sou umbandista!!!
─ Então, por caridade, haja como umbandista e faça como o Caboclo Ventania lhe determinou há quatro meses lá no terreiro que você freqüenta: prepare-se para sua vida mudar de direção!!!
─ Deus, é incrível como a senhora sabe até do que o Caboclo Ventania disse para mim!
─ Nossos campos de atuação são diferentes, mas nós servimos a mesma senhora.
─ A divina mãe Yansã.
─ Exatamente.
─ Puxa, seria errado pensar que, pelo fato de a senhora estar aqui conversando comigo sobre aborto, o nascimento do meu filho é importante?
─ Sim, mas não somente por que será teu filho, mas principalmente pelo fato de que todo ser concebido merece ter a divina oportunidade de ser gestado e parido.
─ Entendo.
─ Eu sou uma Cabocla Sete Ventos que atua no direcionamento de um dos aspectos do sentido da geração, então o trabalho que realizo em benefício do seu vindouro filho é o mesmo que faço pelo direcionamento no desenvolvimento de espíritos encarnados que se encontram na condição biológica fetal.
─ Deus, o trabalho da senhora é lindo!
─ Linda é a vida Bruno! Lindo é fazer o que for possível pela continuação da manifestação da vida!
─ É verdade.
─ Então faça Bruno! Quando você acordar pouco se lembrará deste “sonho”, mas terá material suficiente para não só permitir a manifestação da vida do seu filho, mas para direcioná-lo pelos caminhos do bem.
─ Assim eu farei senhora Cabocla dos Sete Ventos, assim eu farei!!!
Bruno acordou do seu “sonho” com o som de pancadas na porta: era Júlia que vinha lhe trazer a boa nova.
Júlia entrou com passos inseguros e sentou-se no sofá da sala, próxima a Bruno. Ela já amava aquele ser em seu ventre que possuía apenas dois meses de vida com muita intensidade, mas também amava fortemente e de forma recíproca a Bruno e se este lhe pedisse que abortasse ela, mesmo sofrendo muito, não hesitaria em atender ao pedido do seu amado, entretanto ela não queria isto, ela desejava demais aquela criança.
Assim, pôs as mãos de Bruno entre as suas e já iria dar a noticia quando notou grossas e pesadas lágrimas deslizando pelo rosto dele de forma insistente. Sem entender o porquê daquela atitude Júlia perguntou-lhe:
─ O que foi amor?
─ Você veio me contar que está grávida não é?
─ Sim, mas quem lhe disse?
─ Eu já estava com uma intuição que foi confirmada pela senhora Cabocla dos Sete Ventos.
─ E você está chorando por que não quer este filho, é isto?
─ Não, eu estou chorando de alegria por que já estamos esperando esta criança há muito tempo e é tudo que consigo lembrar de um sonho muito maluco que acabei de ter.
─ Sério?
─ Sério. Na minha mente só tem uma mensagem bem imperativa, mas de forma direcionadora, que diz bem assim: “ Você será pai! Cuide bem do seu filho! Cuide dele!”
Atualmente Luciano, filho do casal, tem quatorze anos de idade, mora no Rio de Janeiro, é umbandista como seus pais e tem tudo para tornar-se um homem de bem.
Mais sobre este ocorrido eu não posso dizer tanto para não ferir a intimidade da família, quanto por que a Lei Divina não me permite.
E é só isto que esta Cabocla pode contar e contou não em nome da curiosidade ou da fofoca, mas em nome da vida.
Você que conseguiu aprender algum tipo de ensinamento com esta história não agradeça a mim e nem ao médium que inspirei para passar esta mensagem: agradeça somente a Deus!!!
Agradeça-O lutando com as armas da paz, do amor e da sabedoria pelo direito de preservação e manutenção de toda a forma de vida!!!
Que Tupã abençoe a todo vocês!!!!
Sra. Cabocla dos Sete Ventos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário