Dia 20 de Janeiro é dia de São Sebastião e na Umbanda Ele é Oxóssi, o rei das matas, o caçador. E para representar o grande orixá, vem em terra espíritos que trabalham em sua vibração, os chamados Caboclos.
Para quem não está familiarizado com a religião, fica difícil entender o fenômeno sincrético que envolve estas três personalidades sagradas, portanto, cabe aqui uma pequena explicação:
São Sebastião é o santo católico, um soldado romano, guerreiro, que morreu por se declarar cristão em uma época em que isso custava a própria vida.
Oxóssi é o orixá africano, trazido ao Brasil incrustado na fé inabalável dos escravos traficados de tal continente e que aqui começaram um culto que daria origem ao conhecido Candomblé de hoje.
Caboclos são espíritos de nossos ancestrais, que em vida foram índios, fossem eles os primeiros habitantes dessa terra, ou os “acaboclados” que apesar de já acostumados com a civilização, ainda mantinha fortemente seus costumes, pajelanças e demais rituais. Hoje estes espíritos são os que trabalham na Umbanda, representando Oxóssi, o orixá, que é equivalente a São Sebastião no processo sincrético que equipara orixás a santos católicos.
Na prática e no coração dos umbandistas, todos se tornam uma única energia, a que provem a subsistência de nossas “tribos” urbanas, também conhecidas como comunidades, é a eles que recorremos para pedir a garantia da mesa e da saúde.
Em uma gira umbandista, os médiuns em corrente “recebem” esses espíritos que trazem seus conselhos e dão seus passes que ajudam a curar corpo e mente, são o retrato do ancestral aborígene, conhecedores dos segredos das ervas, valentes, fortes e o mais importante, aqueles que sempre souberam e ensinaram a importância de se conservar a natureza e a cultuá-la como sagrada, muito antes de o assunto se tornar popular diante da necessidade emergencial contemporânea, que só é emergencial porque não demos ouvidos a Eles no passado.
Qualquer pessoa pode acender uma vela a Oxóssi e pedir por sua saúde e de seus familiares, pedir um ano de muita fartura ou que ao menos não falte nada de essencial, pedir a proteção do Caboclos e um pouco de seu Axé.
Abaixo listamos alguns dados sobre o culto a Oxóssi na Umbanda:
Dia da semana: Quinta-feira.
Saudação: Okêaro!
Sincretismo: São Sebastião - Umbanda São Paulo e Rio de Janeiro , comemorado no dia 20 de Janeiro.
Cores: Verde.
Símbolos: O arco e a flecha de ferro fundido.
Onde recebe oferendas: Nas matas.
Principais oferendas: Velas, charutos, frutas, suas comidas e bebidas.
Bebida: Cerveja branca e suco de frutas.
Elemento: Terra.
Algumas ervas: Folha de guiné, peregum, alecrim do cruzamento, manjericão, samambaia, etc.
Animais: Cervo, lebre e outros animais da selva.
Comida: Fruta, inhame, mandioca.
Domínio: As matas.
Particularidade: Trabalha com cura e pajelança.
Características: Ágil, esperto, inteligente, calmo, responsável, sossegado, fiel e muito curioso.
Dia 20 de Janeiro é dia de São Sebastião e na Umbanda Ele é Oxossi o rei das matas, o caçador. E para representar o grande orixá, vem em terra espíritos que trabalham em sua vibração, os chamados Caboclos.
"Eu vi chover, eu vi relampear,
Mas mesmo assim o céu estava azul,
Samborê, Pemba, Folha de Juerema,
Oxossi reina de Norte a Sul!
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Orixá africano dos caçadores, irmão caçula de Ogum, Oxóssi era também cultuado pela sua importância terapêutica, por conta de seu contato com as matas e, consequentemente, com o Orixá das folhas terapêuticas e litúrgicas, Ossain. Além disso, era o desbravador que, em busca da sobrevivência, descobria novos locais para a prática da agricultura e a instalação de aldeias, assim como funcionava como um guardião, já que aos caçadores era dada a atribuição de defesa por conta do uso de armas (arco e flecha, por exemplo). Nessas atribuições de Oxóssi podemos perceber numa das lendas sobre o Orixá.
Olofin era um rei africano da terra de Ifé, lugar de origem de todos os iorubas. Cada ano, na época da colheita, Olofin comemorava, em seu reino, a Festa dos Inhames. Ninguém no país podia comer dos novos inhames antes da festa.
Chegado o dia, o rei instalava-se no pátio do seu palácio. Suas mulheres sentavam-se à sua direita, seus ministros sentavam-se à sua esquerda, seus escravos sentavam-se atrás dele, agitando leques e espanta-moscas, e os tambores soavam para saudá-lo. As pessoas reunidas comiam inhame pilado e bebiam vinho de palma. Elas comemoravam e brincavam. De repente, um enorme pássaro voou sobre a festa. O pássaro voava à direita e voava à esquerda… Até que veio pousar sobre o teto do palácio.A estranha ave fora enviada pelas feiticeiras, furiosas porque não foram também convidadas para a festa. O pássaro causava espanto a todos! Era tão grande que o rei pensou ser uma nuvem cobrindo a cidade.
Sua asa direita cobria o lado esquerdo do palácio, sua asa esquerda cobria o lado direito do palácio, as penas do seu rabo varriam o quintal e sua cabeça,o portal da entrada. As pessoas assustadas comentavam:
“Ah! Que esquisita surpresa?”
“Eh! De onde veio este desmancha-prazer?”
“Ih! O que veio fazer aqui?”
“Oh! Bicho feio de dar dó!”
“Uh! Sinistro que nem urubu!”
“Como nos livraremos dele?”
“Vamos, rápido,chamar os caçadores mais hábeis do reino.”
De Idô,trouxeram Oxotogun, o “Caçador das vinte flechas”. O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas vinte flechas. Oxotogun afirmou: “Que me cortem a cabeça se eu não o matar!”. E lançou suas vinte flechas,mas nenhuma atingiu o enorme pássaro. O rei mandou prendê-lo.
De Morê, chegou Oxotogi, o “Caçador das quarenta flechas”. O rei lhe ordenou matar o pássaro com com suas quarenta flechas. Oxotogi afirmou: “Que me condenem à morte,se eu não o matar!”. E lançou suas quarenta flechas, mas nenhuma atingiu o pássaro. O rei mandou prendê-lo.
De Ilarê, apresentou-se Oxotadotá, o “Caçador das cinqüenta flechas”. Oxodotá afirmou: “Que exterminem toda a minha família,se eu não o matar”. Lançou suas cinqüenta flechas e nenhuma atingiu o pássaro. O rei mandou prendê-lo.
De Iremã, chegou, finalmente, Oxotokanxoxô, o “Caçador de uma flecha só”. O rei lhe ordenou matar o pássaro com sua única flecha. Oxotokanxoxô afirmou: “Que me cortem a cabeça em pedaços se eu não o matar!”. Ouvindo isto, a mãe de Oxotokanxoxô, que não tinha outros filhos, foi rápido consultar um babalaô, o adivinho, e saber o que fazer para ajudar seu único filho.
“Ah! disse-lhe o babalaô”.
“Seu filho está a um passo da morte ou da riqueza. Faça uma oferenda e a morte tornar-se-á riqueza”. E ensinou-lhe como fazer uma oferenda que agradasse as feiticeiras. A mãe sacrificou, então, uma galinha, abrindo-lhe o peito, e foi rápido colocar na estrada,gritando três vezes: “Que o peito do pássaro aceite este presente!”, foi no momento exato que Oxotokanxoxô atirava sua única flecha. O feitiço pronunciado pela mãe do caçador chegou ao grande pássaro. Ele quis receber a oferenda e relaxou o encanto que o protegera até então. A flecha de Oxotokanxoxô o atingiu em pleno peito. O pássaro caiu pesadamente,se debateu e morreu. A notícia espalhou-se: “Foi Oxotokanxoxô, o “Caçador de uma flecha só”, que matou o pássaro! O rei lhe fez uma promessa,se ele o conseguisse! Ele ganhará a metade da sua fortuna! Todas as riquezas do reino serão divididas ao meio, e uma metade será dada a Oxotokanxoxô!!”
Os três caçadores foram soltos da prisão e, como recompensa, Oxotogun,o “Caçador das vinte flechas”, ofereceu a Oxotokanxoxô vinte sacos de búzios; Oxotogi, o “Caçador das quarenta flechas”, ofereceu-lhe quarenta sacos; Oxotadotá, o “Caçador das cinqüenta flechas”, ofereceu-lhe cinqüenta. E todos cantaram para Oxotokanxoxô. O babalaô, também, juntou-se a eles, cantando e batendo em seu agogô: “Oxowusi! Oxowusi!! Oxowusi!!! “O caçador Oxó é popular!” E assim é que Oxotokanxoxô foi chamado Oxowusi.
Oxowusi! Oxowusi!! Oxowusi!!! (VERGER, 1997, p.17-19)
Oxowusi! Oxowusi!! Oxowusi!!! (VERGER, 1997, p.17-19)
Os símbolos de Oxóssi são o Ofá e o Irukeré, respectivamente o arco e a flecha de metal, conjugados, e o espanta-mosca – símbolo dos Reis na África e afugentador e dominador de Égúns, além dos Oge – Chifres de touro – chamados Olugboohun (o Senhor escuta minha voz), que é um poderoso meio de comunicação entre o Aiyé, mundo físico e o Orún, o mundo espiritual (www.mulhernatural.hpg.ig.com.br/trablux/oxossi.htm, acessado em 20 de janeiro de 2010).
Suas habilidades de caçador, ou flecheiro atirador, aproximaram o Orixá das imagens romantizadas dos indígenas brasileiros, cujo estereótipo foi o do indígena“audaz, forte, guerreiro, altivo, indômito” (COSTA, 1983, p.230), incorporado pela Umbanda na figura do Caboclo. Nos cultos umbandistas, Oxóssi se torna o Pai dos Caboclos, sendo estes que se manifestam nas giras, não o Orixá em si. Além dessa identificação de Orixá com os Caboclos, podemos perceber a apropriação, por parte de Oxóssi, das qualidades inerentes à Ossain, o Orixá das folhas, ou seja, das ervas medicinais, cujas propriedades terapêuticas promovem a cura dos males físicos e espirituais. A mata, ambiente natural dos indígenas, se torna, no Brasil, o habitat de Oxóssi, tornando o Orixá o protetor “oficial” das florestas e dos animais que ali habitam. Logo, de caçador, Oxóssi se torna protetor da caça, numa conversão do Orixá africano às características dos povos indígenas que habitavam em grande número o território brasileiro.
Na Umbanda, Oxóssi também é sincretizado com São Sebastião, Santo padroeiro da cidade do Rio de Janeiro. Isso se deve, provavelmente, à “figura do homem seminu (caboclo?) amarrado a um tronco de árvore (mata?) e crivado de flechas (índios?)” (TRINDADE, LINARES e COSTA, 2008, p.173). Não obstante a semelhança com o indígena, São Sebastião se torna Oxóssi para os umbandistas, pelo prestígio do Santo católico, protetor contra as pestes e as guerras. Todavia, nas giras nos terreiros de Umbanda, Oxóssi é cultuado como Caboclo, não ocorrendo a incorporação por São Sebastião. Assim como ocorre com Ogum, a questão foi resolvida com a separação entre as manifestações vibratórias do Orixá/Santo e a incorporação dos Caboclos (COSTA, 1983, p.245).
*Marcelo Alonso Morais é professor de Geografia do Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro, e tem mestrado em Geografia das Religiões.
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