domingo, 27 de janeiro de 2013

domingo, 20 de janeiro de 2013

São Sebastião é Oxossi



Dia 20 de Janeiro é dia de São Sebastião e na Umbanda Ele é Oxóssi, o rei das matas, o caçador. E para representar o grande orixá, vem em terra espíritos que trabalham em sua vibração, os chamados Caboclos.

Para quem não está familiarizado com a religião, fica difícil entender o fenômeno sincrético que envolve estas três personalidades sagradas, portanto, cabe aqui uma pequena explicação:

São Sebastião é o santo católico, um soldado romano, guerreiro, que morreu por se declarar cristão em uma época em que isso custava a própria vida.

Oxóssi é o orixá africano, trazido ao Brasil incrustado na fé inabalável dos escravos traficados de tal continente e que aqui começaram um culto que daria origem ao conhecido Candomblé de hoje.

Caboclos são espíritos de nossos ancestrais, que em vida foram índios, fossem eles os primeiros habitantes dessa terra, ou os “acaboclados” que apesar de já acostumados com a civilização, ainda mantinha fortemente seus costumes, pajelanças e demais rituais. Hoje estes espíritos são os que trabalham na Umbanda, representando Oxóssi, o orixá, que é equivalente a São Sebastião no processo sincrético que equipara orixás a santos católicos.

Na prática e no coração dos umbandistas, todos se tornam uma única energia, a que provem a subsistência de nossas “tribos” urbanas, também conhecidas como comunidades, é a eles que recorremos para pedir a garantia da mesa e da saúde.

Em uma gira umbandista, os médiuns em corrente “recebem” esses espíritos que trazem seus conselhos e dão seus passes que ajudam a curar corpo e mente, são o retrato do ancestral aborígene, conhecedores dos segredos das ervas, valentes, fortes e o mais importante, aqueles que sempre souberam e ensinaram a importância de se conservar a natureza e a cultuá-la como sagrada, muito antes de o assunto se tornar popular diante da necessidade emergencial contemporânea, que só é emergencial porque não demos ouvidos a Eles no passado.

Qualquer pessoa pode acender uma vela a Oxóssi e pedir por sua saúde e de seus familiares, pedir um ano de muita fartura ou que ao menos não falte nada de essencial, pedir a proteção do Caboclos e um pouco de seu Axé.

Abaixo listamos alguns dados sobre o culto a Oxóssi na Umbanda:
Dia da semana: Quinta-feira.
Saudação: Okêaro!
Sincretismo: São Sebastião - Umbanda São Paulo e Rio de Janeiro , comemorado no dia 20 de Janeiro.
Cores: Verde.
Símbolos: O arco e a flecha de ferro fundido.
Onde recebe oferendas: Nas matas.
Principais oferendas: Velas, charutos, frutas, suas comidas e bebidas.
Bebida: Cerveja branca e suco de frutas.
Elemento: Terra.
Algumas ervas: Folha de guiné, peregum, alecrim do cruzamento, manjericão, samambaia, etc.
Animais: Cervo, lebre e outros animais da selva.
Comida: Fruta, inhame, mandioca.
Domínio: As matas.
Particularidade: Trabalha com cura e pajelança.
Características: Ágil, esperto, inteligente, calmo, responsável, sossegado, fiel e muito curioso.
Dia 20 de Janeiro é dia de São Sebastião e na Umbanda Ele é Oxossi  o rei das matas, o caçador. E para representar o grande orixá, vem em terra espíritos que trabalham em sua vibração, os chamados Caboclos.


"Eu vi chover, eu vi relampear, 
Mas mesmo assim o céu estava azul,
Samborê, Pemba, Folha de Juerema,
Oxossi reina de Norte a Sul!


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OxossiOrixá africano dos caçadores, irmão caçula de Ogum, Oxóssi era também cultuado pela sua importância terapêutica, por conta de seu contato com as matas e, consequentemente, com o Orixá das folhas terapêuticas e litúrgicas, Ossain. Além disso, era o desbravador que, em busca da sobrevivência, descobria novos locais para a prática da agricultura e a instalação de aldeias, assim como funcionava como um guardião, já que aos caçadores era dada a atribuição de defesa por conta do uso de armas (arco e flecha, por exemplo). Nessas atribuições de Oxóssi podemos perceber numa das lendas sobre o Orixá.
Oxossi2
Olofin era um rei africano da terra de Ifé, lugar de origem de todos os iorubas. Cada ano, na época da colheita, Olofin comemorava, em seu reino, a Festa dos Inhames. Ninguém no país podia comer dos novos inhames antes da festa.
Chegado o dia, o rei instalava-se no pátio do seu palácio. Suas mulheres sentavam-se à sua direita, seus ministros sentavam-se à sua esquerda, seus escravos sentavam-se atrás dele, agitando leques e espanta-moscas, e os tambores soavam para saudá-lo. As pessoas reunidas comiam inhame pilado e bebiam vinho de palma. Elas comemoravam e brincavam. De repente, um enorme pássaro voou sobre a festa. O pássaro voava à direita e voava à esquerda… Até que veio pousar sobre o teto do palácio.
A estranha ave fora enviada pelas feiticeiras, furiosas porque não foram também convidadas para a festa. O pássaro causava espanto a todos! Era tão grande que o rei pensou ser uma nuvem cobrindo a cidade.
Sua asa direita cobria o lado esquerdo do palácio, sua asa esquerda cobria o lado direito do palácio, as penas do seu rabo varriam o quintal e sua cabeça,o portal da entrada. As pessoas assustadas comentavam:
“Ah! Que esquisita surpresa?”
“Eh! De onde veio este desmancha-prazer?”
“Ih! O que veio fazer aqui?”
“Oh! Bicho feio de dar dó!”
“Uh! Sinistro que nem urubu!”
“Como nos livraremos dele?”
“Vamos, rápido,chamar os caçadores mais hábeis do reino.”
De Idô,trouxeram Oxotogun, o “Caçador das vinte flechas”. O rei lhe ordenou matar o pássaro com suas vinte flechas. Oxotogun afirmou: “Que me cortem a cabeça se eu não o matar!”. E lançou suas vinte flechas,mas nenhuma atingiu o enorme pássaro. O rei mandou prendê-lo.
De Morê, chegou Oxotogi, o “Caçador das quarenta flechas”. O rei lhe ordenou matar o pássaro com com suas quarenta flechas. Oxotogi afirmou: “Que me condenem à morte,se eu não o matar!”. E lançou suas quarenta flechas, mas nenhuma atingiu o pássaro. O rei mandou prendê-lo.
De Ilarê, apresentou-se Oxotadotá, o “Caçador das cinqüenta flechas”. Oxodotá afirmou: “Que exterminem toda a minha família,se eu não o matar”. Lançou suas cinqüenta flechas e nenhuma atingiu o pássaro. O rei mandou prendê-lo.
De Iremã, chegou, finalmente, Oxotokanxoxô, o “Caçador de uma flecha só”. O rei lhe ordenou matar o pássaro com sua única flecha. Oxotokanxoxô afirmou: “Que me cortem a cabeça em pedaços se eu não o matar!”. Ouvindo isto, a mãe de Oxotokanxoxô, que não tinha outros filhos, foi rápido consultar um babalaô, o adivinho, e saber o que fazer para ajudar seu único filho.
“Ah! disse-lhe o babalaô”.
“Seu filho está a um passo da morte ou da riqueza. Faça uma oferenda e a morte tornar-se-á riqueza”. E ensinou-lhe como fazer uma oferenda que agradasse as feiticeiras. A mãe sacrificou, então, uma galinha, abrindo-lhe o peito, e foi rápido colocar na estrada,gritando três vezes: “Que o peito do pássaro aceite este presente!”, foi no momento exato que Oxotokanxoxô atirava sua única flecha. O feitiço pronunciado pela mãe do caçador chegou ao grande pássaro. Ele quis receber a oferenda e relaxou o encanto que o protegera até então. A flecha de Oxotokanxoxô o atingiu em pleno peito. O pássaro caiu pesadamente,se debateu e morreu. A notícia espalhou-se: “Foi Oxotokanxoxô, o “Caçador de uma flecha só”, que matou o pássaro! O rei lhe fez uma promessa,se ele o conseguisse! Ele ganhará a metade da sua fortuna! Todas as riquezas do reino serão divididas ao meio, e uma metade será dada a Oxotokanxoxô!!”
Os três caçadores foram soltos da prisão e, como recompensa, Oxotogun,o “Caçador das vinte flechas”, ofereceu a Oxotokanxoxô vinte sacos de búzios; Oxotogi, o “Caçador das quarenta flechas”, ofereceu-lhe quarenta sacos; Oxotadotá, o “Caçador das cinqüenta flechas”, ofereceu-lhe cinqüenta. E todos cantaram para Oxotokanxoxô. O babalaô, também, juntou-se a eles, cantando e batendo em seu agogô: “Oxowusi! Oxowusi!! Oxowusi!!! “O caçador Oxó é popular!” E assim é que Oxotokanxoxô foi chamado Oxowusi.
Oxowusi! Oxowusi!! Oxowusi!!!
 (VERGER, 1997, p.17-19)
Os símbolos de Oxóssi são o Ofá e o Irukeré, respectivamente o arco e a flecha de metal, conjugados, e o espanta-mosca – símbolo dos Reis na África e afugentador e dominador de Égúns, além dos Oge – Chifres de touro – chamados Olugboohun (o Senhor escuta minha voz), que é um poderoso meio de comunicação entre o Aiyé, mundo físico e o Orún, o mundo espiritual (www.mulhernatural.hpg.ig.com.br/trablux/oxossi.htm, acessado em 20 de janeiro de 2010).
Suas habilidades de caçador, ou flecheiro atirador, aproximaram o Orixá das imagens romantizadas dos indígenas brasileiros, cujo estereótipo foi o do indígena“audaz, forte, guerreiro, altivo, indômito” (COSTA, 1983, p.230), incorporado pela Umbanda na figura do Caboclo. Nos cultos umbandistas, Oxóssi se torna o Pai dos Caboclos, sendo estes que se manifestam nas giras, não o Orixá em si. Além dessa identificação de Orixá com os Caboclos, podemos perceber a apropriação, por parte de Oxóssi, das qualidades inerentes à Ossain, o Orixá das folhas, ou seja, das ervas medicinais, cujas propriedades terapêuticas promovem a cura dos males físicos e espirituais. A mata, ambiente natural dos indígenas, se torna, no Brasil, o habitat de Oxóssi, tornando o Orixá o protetor “oficial” das florestas e dos animais que ali habitam. Logo, de caçador, Oxóssi se torna protetor da caça, numa conversão do Orixá africano às características dos povos indígenas que habitavam em grande número o território brasileiro.
Na Umbanda, Oxóssi também é sincretizado com São Sebastião, Santo padroeiro da cidade do Rio de Janeiro. Isso se deve, provavelmente, à “figura do homem seminu (caboclo?) amarrado a um tronco de árvore (mata?) e crivado de flechas (índios?)” (TRINDADE, LINARES e COSTA, 2008, p.173). Não obstante a semelhança com o indígena, São Sebastião se torna Oxóssi para os umbandistas, pelo prestígio do Santo católico, protetor contra as pestes e as guerras. Todavia, nas giras nos terreiros de Umbanda, Oxóssi é cultuado como Caboclo, não ocorrendo a incorporação por São Sebastião. Assim como ocorre com Ogum, a questão foi resolvida com a separação entre as manifestações vibratórias do Orixá/Santo e a incorporação dos Caboclos (COSTA, 1983, p.245).
*Marcelo Alonso Morais é professor de Geografia do Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro, e tem mestrado em Geografia das Religiões.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Ano da Justiça - Orixá regente de 2013 é Xangô!


Olá amigos!

Em 2013 as energias que vão reger e influenciar o ano são dos orixás Xangô e Iansã. Será um ano que vai favorecer a justiça, a boa conduta e a fé. 

Xangô é o orixá que exerce a "justiça divina". Quando você pede para Xangô, ele vai consultar o seu livro da vida e ver se você tem merecimento naquilo que você pediu. Por isso esse ano não vai favorecer quem anda na escuridão, quem tem duas caras ou não tem uma boa conduta. Será um ano de "acerto de contas", portanto ande na linha!

Em 2013 é importante rever nossas práticas e buscarmos sermos pessoas melhores, mais justas, honestas e íntegras. Será fundamental neste ano rever nossos conceitos e nos entregarmos com fé às boas batalhas.

Pela influência de Iansã, 2013 promete ser um ano bom para o amor, para viver grandes paixões.

Como Iansã rege sob os ventos e Xangô comanda os raios, este também poderá ser um ano de mudanças climáticas. 

2013 promete ser o ano do bem sobre o mal. Vamos renovar nossa fé e pedir a Xangô que nos abençoe com a justiça divina, nos mostrando o melhor caminho.

"No alto da pedreira está Xangô
que rege a luz divina sobre mim.

O dia que eu não tiver 
a fé que Deus me deu,
que caia essa pedreira sobre mim".

Kaô Cabecilê Xangô!

Eparrei Iansã!

Viva o ano novo!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A OFERENDA


 No que diz respeito a oferendas aos Orixás, guias, ou entidades menores, ressalto que sou contra o uso excessivo desse recurso como elemento de religação. A oferenda tem sua função específica e determinada. A banalização da mesma influencia negativamente no desenvolvimento do médium e na evolução do espírito (guia ou protetor) que a está recebendo. Aqui você pode estar perguntando como e porque o uso excessivo de oferenda pode atrapalhar a evolução de um espírito e/ou de um médium.

A resposta é simples e como em tudo há sempre dois lados a serem observados:

Na realidade desestimulamos tudo que seja excessivo. No caso das oferendas, existem consequências de ambos os lados, material e espiritual.

Do lado material:

a) O custo dos elementos da oferenda (muitas pessoas chegam a deixar de comer, ou até mesmo, permitem que falte alguma coisa dentro de sua casa para comprar os elementos da oferenda).

b) Estímulo a barganha espiritual, ou seja, o ofertante acredita que oferendando alguma coisa poderá obter privilégios junto a espiritualidade.

c) Estímulo a preguiça espiritual no sentido da evolução, ou seja, o ofertante começa a acreditar que a oferenda substitui o seu empenho em melhorar enquanto pessoa, geralmente com a famosa frase : “Eu cuido do meu santo, já arriei minhas coisinhas”.

Do lado espiritual:

a) Pela pessoa somente se interligar com a espiritualidade através da oferenda, as entidades receptoras começam a pedir cada vez mais oferendas com o intuito de estarem sempre próximas da pessoa, pois sabemos que para que haja aproximação da entidade é necessário que haja sintonia de pensamentos e sentimentos. Quando fazemos uma oferenda, geralmente elevamos a nossa faixa vibracional e nos harmonizamos com a entidade. Isso faz com que comece a haver uma espécie de “vício” ou “ciclo vicioso”, onde entidade e pessoa começam aprecisar da oferenda para se comunicarem.

b) Disso surgem pedidos cada vez mais frequentes impedindo a evolução da pessoa e da entidade que começa a ver na oferenda a única forma de contato com a pessoa ofertante. Quanto menos evoluída a entidade e mais apegado a matéria for o médium, mais ambos “precisarão” de oferendas.

Geralmente faço isso por ocasião do dia do Orixá ou entidade em forma de homenagem, pois como disse o nosso mentor, Pai Pery: “Amor, fé, estudo doutrinário e o desejo de fazer caridade desinteressada em retribuição, ofertadas com resignação e humildade”, assim nos dispomos a ser médiuns. E se dispor a ser médium não significa apenas entrar para a corrente de um terreiro e dar incorporação. Mas se colocar a disposição, a serviço da caridade. E sabemos muito bem que não há necessidade da incorporação para que isso ocorra, assim como sabemos também que arriar oferenda não é “cuidar do santo”.

Com tudo isso exposto, esclareço que o uso da oferenda como elemento de atração, religação ou ponto de fixação dependerá da orientação de cada dirigente umbandista. 

 Havendo a real necessidade, a oferenda deve ser feita em locais determinados, normalmente junto à natureza ou reinos apropriados. Lembrando sempre de deixar o local limpo como foi encontrado. Sou absolutamente contra, por exemplo, acender velas perto de árvores (risco de incêndio) ou numa pedra (sujeira da cera).

Nós umbandistas amamos a natureza e as suas energias, como podemos sujar os locais sagrados para nós? É no mínimo incoerente. E uma coisa que o umbandista não pode ser é incoerente.

A situação ideal é que todas as oferendas sejam feitas dentro do próprio terreiro em alguma parte destinada para esse fim.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A Tristeza dos Orixás

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Foi, não há muito tempo atrás, que essa história aconteceu. Contada aqui de uma forma romanceada, mas que trás em sua essência, uma verdadeira mensagem para os umbandistas…
Ela começa em uma noite escura e assustadora, daquelas de arrepiar os pelos do corpo. Realmente o Sol tinha escondido – se nesse dia, e a Lua, tímida, teimava em não iluminar com seus encantadores raios, brilhosos como fios de prata, a morada dos Orixás.
Nessa estranha noite, Ogum, o Orixá das “guerras”, saiu do alto ponto onde guarda todos os caminhos e dirigiu – se ao mar. Lá chegando, as sereias começaram a cantar e os seres aquáticos agitaram – se. Todos adoravam Ogum, ele era tão forte e corajoso.
Iemanjá que tem nele um filho querido, logo abriu um sorriso, aqueles de mãe “coruja” quando revê um filho que há tempos partiu de sua casa, mas nunca de sua eterna morada dentro do coração:
_ Ah Ogum, que saudade, já faz tanto tempo! Você podia vir visitar mais vezes sua mãe, não é mesmo? _ ralhou Iemanjá, com aquele tom típico de contrariedade.
_Desculpe, sabe, ando meio ocupado_ Respondeu um triste Ogum.
_Mas, o que aconteceu? Sinto que estás triste.
_É, vim até aqui para “desabafar” com você “mãeinha”. Estou cansado! Estou cansado de muitas coisas que os encarnados fazem em meu nome. Estou cansado com o que eles fazem com a “ espada da Lei” que julgam carregar. Estou cansado de tanta demanda. Estou muito mais cansado das “supostas” demandas, que apenas existem dentro do íntimo de cada um deles…Estou cansado…
Ogum retirou seu elmo, e por de trás de seu bonito capacete, um rosto belo e de traços fortes pôde ser visto. Ele chorava. Chorava uma dor que carregava há tempos. Chorava por ser tão mal compreendido pelos filhos de Umbanda.
Chorava por ninguém entender, que se ele era daquele jeito, protetor e austero, era porque em seu peito a chama da compaixão brilhava. E, se existe um Orixá leal, fiel e companheiro, esse Orixá é Ogum. Ele daria a própria Vida, por cada pessoa da humanidade, não apenas pelos filhos de fé. Não! Ogum amava a humanidade, amava a Vida.
Mas infelizmente suas atribuições não eram realmente entendidas. As pessoas não viam em sua espada, a força que corta as trevas do ego, e logo a transformavam em um instrumento de guerra. Não vinham nele a potência e a força de vencer os abismos profundos, que criam verdadeiros vales de trevas na alma de todos. Não vinham em sua lança, a direção que aponta para o autoconhecimento, para iluminação interna e eterna.
Não! Infelizmente ele era entendido como o “Orixá da Guerra”, um homem impiedoso que utiliza – se de sua espada para resolver qualquer situação. E logo, inspirados por isso, lá iam os filhos de fé esquecer dos trabalhos de assistência a espíritos sofredores, a almas perdidas entre mundos, aos trabalhos de cura, esqueciam do amor e da compaixão, sentimentos básicos em qualquer trabalho espiritual, para apenas realizaram “quebras e cortes” de demandas, muitas das quais nem mesmo existem, ou quando existem, muitas vezes são apenas reflexos do próprio estado de espírito de cada um. E mais, normalmente, tudo isso torna – se uma guerra de vaidade, um show “pirotécnico” de forças ocultas. Muita “espada”, muito “tridente”, muitas “armas”, pouco coração, pensamento elevado e crescimento espiritual.
Isso magoava Ogum. Como magoava:
_ Ah, filhos de Umbanda, por que vocês esquecem que Umbanda é pura e simplesmente amor e caridade? A minha espada sempre protege o justo, o correto, aquele que trabalha pela luz, fiando seu coração em Olorum. Por que esquecem que a Espada da Lei só pode ser manuseada pela mão direita do amor, insistindo em empunhá – la com a mão esquerda da soberbia, do poder transitório, da ira, da ilusão, transformando – na em apenas mais uma espada semeadora de tormentos e destruição…
Então, Ogum começou a retirar sua armadura, que representava a proteção e firmeza no caminho espiritual que esse Orixá traz para nossa vida. E totalmente nu ficou frente à Iemanjá. Cravou sua espada no solo. Não queria mais lutar, não daquele jeito. Estava cansado…
Logo um estrondo foi ouvido e o querido, mas também temido Tatá Omulu apareceu. E por incrível que pareça o mesmo aconteceu. Ele não agüentava mais ser visto como uma divindade da peste e da magia negativa. Não entendia, como ele, o guardião da Vida podia ser invocado para atentar contra Ela. Magoava – se por sua alfange da morte, que é o princípio que a tudo destrói, para que então a mudança e a renovação aconteçam, ser tão temida e mal compreendida pelos homens.
Ele também deixou sua alfange aos pés de Iemanjá, e retirou seu manto escuro como a noite. Logo via – se o mais lindo dos Orixás, aquele que usa uma cobertura para não cegar os seus filhos com a imensa luz de amor e paz que irradia – se de todo seu ser. A luz que cura, a luz que pacifica, aquela que recolhe todas as almas que perderam – se na senda do Criador. Infelizmente os filhos de fé esquecem disso…
Mas o mais incrível estava por acontecer. Uma tempestade começou a desabar aumentando ainda mais o aspecto incrível e tenebroso daquela estranha noite. E todos os outros Orixás começaram a aparecer, para logo, começarem também a despir suas vestimentas sagradas, além de deixarem ao pé de Iemanjá suas armas e ferramentas simbólicas.
Faziam isso em respeito a Ogum e Omulu, dois Orixás muito mal compreendidos pelos umbandistas. Faziam isso por si próprios. Iansã queria que as pessoas entendessem que seus ventos sagrados são o sopro de Olorum, que espalha as sementes de luz do seu amor. Oxossi queria ser reverenciado como aquele que, com flechas douradas de conhecimento, rasga as trevas da ignorância. Egunitá apagou seu fogo encantador, afinal, ninguém lembrava da chama que intensifica a fé e a espiritualidade. Apenas daquele que devora e destrói. Os vícios dos outros, é claro.
Um a um, todos foram despindo – se e pensando quanto os filhos de Umbanda compreendiam erroneamente os Orixás.
Iemanjá, totalmente surpresa e sem reação, não sabia o que fazer. Foi quando uma irônica gargalhada cortou o ambiente. Era Exu. O controvertido Orixá das encruzilhadas, o mensageiro, o guardião, também chegava para a reunião, acompanhado de Pombagira, sua companheira eterna de jornada.
Mas os dois estavam muito diferentes de como normalmente apresentam – se. Andavam curvados, como que segurando um grande peso nas costas. Tinham na face, a expressão do cansaço. Mas, mesmo assim, gargalhavam muito. Eles nunca perdiam o senso de humor!
E os dois também repetiram aquilo que todos os Orixás foram fazer na casa de Iemanjá. Despiram – se de tudo. Exu e Pombagira, sem dúvida, eram os que mais razões tinham de ali estarem. Enúmeros eram os absurdos cometidos por encarnados em nome deles. Sem contar o preconceito, que o próprio umbandista ajudou a criar, dentro da sociedade, associando – o a figura do Diabo:
_Hahaha, lamentável essa situação, hahaha, lamentável! _ Exu chorava, mas Exu continuava a sorrir. Essa era a natureza desse querido Orixá.
Iemanjá estava desesperada! Estavam todos lá, pedindo a ela um conforto. Mas nem mesmo a encantadora Rainha do Mar sabia o que fazer:
Espere!_ pensou Iemanjá!_ Oxalá, Oxalá não está aqui! Ele com certeza saberá como resolver essa situação.
E logo Iemanjá colocou – se em oração, pedindo a presença daquele que é o Rei entre os Orixás. Oxalá apresentou – se na frente de todos. Trazia seu opaxorô, o cajado que sustenta o mundo. Cravou ele na Terra, ao lado da espada de Ogum. Também despiu – se de sua roupa sagrada, pra igualar – se a todos, e sua voz ecoou pelos quatro cantos do Orun:
_ Olorum manda uma mensagem a todos vocês meus irmãos queridos! Ele diz para que não desanimem, pois, se poucos realmente os compreendem, aqueles que assim o fazem, não medem esforços para disseminar essas verdades divinas. Fechem os olhos e vejam, que mesmo com muita tolice e bobagem relacionada e feita em nossos nomes, muita luz e amor também está sendo semeado, regado e colhido, por mãos de sérios e puros trabalhadores nesse às vezes triste, mas abençoado planeta Terra. Esses verdadeiros filhos de fé que lutam por uma Umbanda séria, sem os absurdos que por aí acontecem. Esses que muito além de “apenas” prestarem o socorro espiritual, plantam as sementes do amor dentro do coração de milhares de pessoas. Esses que passam por cima das dificuldades materiais, e das pressões espirituais, realizando um trabalho magnífico, atendendo milhares na matéria, mas também, milhões no astral, construindo verdadeiras “bases de luz” na crosta, onde a espiritualidade e religiosidade verdadeira irão manifestar-se. Esses que realmente nos compreendem e buscam – nos dentro do coração espiritual, pois é lá que o verdadeiro Orun reside e existe. Esses incríveis filhos de umbanda, que não colocam as responsabilidades da vida deles em nossas costas, mas sim, entendem que tudo depende exclusivamente deles mesmos. Esses fantásticos trabalhadores anônimos, soltos pelo Brasil, que honram e enchem a Umbanda de alegria, fazendo a filhinha mais nova de Olorum brilhar e sorrir…
Quando Oxalá calou – se os Orixás estavam mudados. Todos eles tinham suas esperanças recuperadas, realmente viram que se poucos os compreendiam, grande era o trabalho que estava sendo realizado, e talvez, daqui algum tempo, muitos outros juntariam – se nesse ideal. E aquilo alegrou – os tanto que todos começaram a assumir suas verdadeiras formas, que são de luzes fulgurantes e indescritíveis. E lá, do plano celeste, brilharam e derramaram – se em amor e compaixão pela humanidade.
Em Aruanda, os caboclos, pretos – velhos e crianças, o mesmo fizeram. Largaram tudo, também despiram – se e manifestaram sua essência de luz, sua humildade e sabedoria comungando a benção dos Orixás.
Na Terra, baianos, marinheiros, boiadeiros, ciganos e todos os povos de Umbanda, sorriam. Aquelas luzes que vinham lá do alto os saudavam e abençoavam seus abnegados e difíceis trabalhos. Uma alegria e bem – aventurança incríveis invadiram seus corações. Largaram as armas. Apenas sorriam e abraçavam – se. O alto os abençoava…
Mas, uma ação dos Orixás nunca fica limitada, pois é divina, alcançando assim, a tudo e a todos. E lá no baixo astral, aqueles guardiões e guardiãs da lei nas trevas também foram alcançados pelas luzes Deles, os Senhores do Alto. Largaram as armas, as capas, e lavaram suas sofridas almas com aquele banho de luz. Lavaram seus corações, magoados por tanta tolice dita e cometida em nome deles. Exus e Pombagiras, naquele dia foram tocados pelo amor dos Orixás, e com certeza, aquilo daria força para mais muitos milênios de lutas insaciáveis pela Luz.
Miríades de espíritos foram retirados do baixo – astral, e pela vibração dos Orixás puderam ser encaminhados novamente à senda que leva ao Criador. E na matéria toda a humanidade foi abençoada. Aos tolos que pensam que Orixás pertencem a uma única religião ou a um povo e tradição, um alerta. Os Orixás amam a humanidade inteira, e por todos olham carinhosamente.
Aquela noite que tinha tudo para ser uma das mais terríveis de todos os tempos, tornou – se benção na vida de todos. Do alto ao embaixo, da esquerda até a direita, as egrégoras de paz e luz deram as mãos e comungaram daquele presente celeste, vindo diretamente do Orun, a morada celestial dos Orixás.
Vocês, filhos de Umbanda, pensem bem! Não transformem a Umbanda em um campo de guerra, onde os Orixás são vistos como “armas” para vocês acertarem suas contas terrenas. Muito menos esqueçam do amor e compaixão, chaves de acesso ao mistério de qualquer um deles. Umbanda é simples, é puro sentimento, alegria e razão. Lembrem – se disso.
E quanto a todos aqueles, que lutam por uma Umbanda séria, esclarecida e verdadeira, independente da linha seguida, lembrem – se das palavras de Oxalá ditas linhas acima.
Não desanimem com aqueles que vos criticam, não fraquejem por aqueles que não tem olhos para ver o brilho da verdadeira espiritualidade.
Lembrem – se que vocês também inspiram e enchem os Orixás de alegria e esperança. A todos, que lutam pela Umbanda nessa Terra de Orixás, esse texto é dedicado. Honrem – los. Sejam luz, assim como Eles!
Exe ê o babá (Salve o Pai Oxalá)
Fernando Sepe