sábado, 26 de abril de 2014

Povos Africanos 3 - Os Etíopes


 etiopia

A história da Etiópia está documentada como uma das mais antigas do mundo. Segundo descobertas recentes, a espécie Homo sapiens seria originária dessa região e daí se teria espalhado pelo mundo.
unto com os países vizinhos de Eritréia, Sudão, Djibouti, Somália e Somalilândia, esta região hospedou também o reino de Axum. A origem de Axum, por sua vez, remonta ao reino de Sabá (ou Shebah), no Iêmen, referido na Bíblia, que, por volta do ano 1000 a.C., se estendia, aparentemente, por todo o Corno de África e por parte da Península Arábica.
Desde aproximadamente o século IV a.C. os gregos chamavam de “Etiópia” a todos os países com população de raça negra, sem distinguir reinos nem países. Portanto, a Etiópia, segundo os gregos poderia ser a Núbia do sul de Egito e Sudão, ou poderia ser o reino de Axum, que se concentrava nos arrededores da Eritréia e ao norte da própria Etiópia, mas não há certeza histórica sobre isso.
Fontes gregas referem que o reino de Axum era extremamente rico no século I e a cidade de Adulis (que fica no país vizinho da Eritréia) é frequentemente mencionada como um dos mais importantes portos de África. Documentos oficiais, contudo, colocam a cidade de Aksum como a capital onde se encontrava a corte da Rainha de Sabá. Esse reino tinha, no século II, direito de receber tributos de estados da Península Arábica e tinha inclusivamente conquistado o reino meroítico de Kush, no actual Sudão.
Há indicações do carácter cosmopolita desse reino, com populações judaicas, núbias, cristãs e mesmo minorias budistas.
Século X
No século X, o reino de Axum escassamente tinha acesso ao mar, sendo isolado pelas forças árabes islâmicas. Os árabes chamavam o país empobrecido e desintegrado de “Al-Habashat”, que significa povo mestiçado (entre negros e árabes), e é por esse nome que a Etiópia ainda é chamada na língua árabe. “Habesh” ou “Habesha” é uma palavra usada com freqüência mesmo na Etiópia, para distinguir as pessoas cristãs do norte do país.
Esse termo deu origem ao uso do nome Abissínia pelos europeus. Abissínia era uma região no norte da Etiópia moderna que era unida por uma cultura, uma família lingüistica, uma religião (cristianismo ortodoxo) e uma raça mestiçada que consistia de vários reinos rivais, unidos e divididos por diferentes períodos da história. Isolados do mar, os reinos da Abissínia começaram a sua expansão para sul, colonizando o interior da região inteira, enquanto os povos do litoral estavam sob a influência dos povos islâmicos.
A moderna Etiópia
O país moderno da Etiópia foi criado no final do século XIX pela rápida expansão territorial promovida pelos reis de Abissínia, com o apoio militar das potências coloniais européias. Esse apoio, principalmente de Portugal, foi decisivo desde o século XVI para evitar a invasão muçulmana da região.
A Inglaterra utilizou os reinos de Abissínia como fonte de mercenários contra as forças muçulmanos na região, enquanto a França construía um caminho de ferro desde sua colônia portuária no Djibouti até a capital de Abissínia, Adis Abeba, para penetrar o mercado do interior do continente. Nenhuma das potências coloniais da Europa, além da Itália, tentou colonizar o país, pois, à época, era uma das regiões mais pobres e menos atrativas para colonizar, por sua topografia de difícil acesso, que não favorecia a construção de infraestruturas modernas. A Itália, sendo um dos últimos países a entrar na era do colonialismo, ficou com o que ainda estava disponível para ser colonizado. A Itália tentou invadir a Abissínia desde a Eritréia em 1896 mas não conseguiu. No início do século XX, a Abissínia foi reconhecida como o reino independente da Etiópia e foi convidada para a Conferência de Berlim, na qual as potências coloniais decidiram a partilha da África.
O Império Etíope
A seguir à Primeira Guerra Mundial, a Abissínia, na forma de Império Etíope e governada pelo imperador Hailé Selassié, integrou a Liga das Nações, e apenas perdeu a sua independência entre 1936 e 1941, quando o exército de Benito Mussolini invadiu–a dando início a segunda guerra ítalo-etíope. A Itália possuía duas pequenas colónias no Corno de África, a Eritreia e a Somalilândia, e tinha vontade de se tornar um império, aliando-se à Alemanha Nazi – mas o negus recuperou-a, com auxílio da Grã-Bretanha (onde se tinha refugiado) e da África do Sul e começou a modernizar o país. Apesar de a Etiópia nunca ter sido colonizada pelo expansionismo europeu, ela mesma foi, na sua época de ouro, colonialista e expansionista, pois colonizou grandes territórios na região no final do século XIX, que nunca haviam pertencido nem desejaram pertencer à Etiópia e que estão ainda lutando pela sua independência.
Entre 1987 e 1991 o estado etíope foi uma república comunista com o nome de República Democrática Popular da Etiópia.
A independência da Eritreia
Em 1961 começava a luta pela independência da Eritréia (ocupada pela Etiópia). Em 1963 Etiópia participou na fundação da Organização da Unidade Africana, que colocou a sua sede em Adis Abeba. Em 1974, o imperador foi deposto num golpe militar, liderado por Mengistu Haile Mariam, mas o governo despótico que se seguiu, de carácter marxista e dirigido por um comando militar, o Derg, não conseguiu, nem desenvolver, nem estabilizar politicamente o país e em 1991, este governo foi deposto por um movimento de guerrilha duma minoria étnica do norte do país, FLPT (Frente pela Liberação do Povo de Tigray) ou popularmente chamado “Weyane”. Os FLPT apenas representam 5% do povo da Etiópia mas foram comandados por um meio-eritreu, Meles Zenawi e apoiados pelos independentistas eritreus do FLPE, Frente pela Liberação do Povo Eritreu.
Como Presidente interino e Primeiro Ministro, cargo que ocupa até hoje, Zenawi consentiu, sob pressão dos eritreus, com a independência da Eritréia da Etiópia em 1993, pondo momentaneamente fim a cerca de 30 anos de guerra. Uma Assembleia Constitutiva foi construida pelo FLPT em 1994, no ano seguinte, foi proclamada a República Federal Democrática da Etiópia. Os resultados das eleições gerais desse ano foram rejeitados por todos os observadores internacionais por violações graves dos direitos humanos e democráticos, mas mesmo assim Meles Zenawi proclamou-se Primeiro Ministro.
Em 1997 a Eritreia introduziu a sua própria moeda corrente, a Nakfa, separando a sua economia da Birr etíope. O conflito de fronteiras começou em Maio de 1998 com o assassinato de oficiais eritreus na aldeia de Badme por militares etíopes que ocupavam a zona. A Eritreia retomou a zona e a Etiópia declarou a guerra pouco depois, iniciando uma guerra aberta por cinco frentes ao longo da toda a fronteira e com bombardeamentos aéreos sobre a capital da Eritréia. Eritréia respondeu e a guerra continuou até o dia 17 de Maio (o dia das eleições na Etiópia) quando o governo etiope lançou uma grande ofensiva ocupando um quarto do território eritreu e refugiando um terço do povo, plantando minas nas terras mais férteis da Eritréia e causando o equivalente a 850 milhões de dólares de destruição à infraestrutura da Eritréia.
Meles Zenawi proclamou que ganhara as eleições da Etiópia, e tinha proibido desta vez a presença de observadores internacionais. A guerra terminou com mais de 100 000 mortos em 2000 depois da intervenção da ONU pondo uma zona desmilitarizada de 25 km ao longo do lado eritreu da fronteira com 4500 capacetes azuis da ONU. Em Abril de 2002, o Tribunal Internacional de Justiça na Haia acabou com o trabalho de delinear a fronteira entre os dois países, pondo a aldeia disputada de Badme na Eritréia e obrigando a Etiópia a compensar a Eritréia pela destruição que causou durante a sua invasão. A Eritréia aceitou a decisão, a Etiópia rejeitou-a e a ameaça de guerra ainda persiste.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Povos Africanos 2 - Os Macondes

Os Macondes

mulheres-macondes
Os macondes são um grupo étnico bantu que vive no sudeste da Tanzânia e no nordeste de Moçambique, principalmente no planalto de Mueda, tendo uma pequena presença no Quénia.
A população maconde na Tanzânia foi estimada em 2001 em cerca de 1.140.000 habitantes e no censo de 1997 em Moçambique, em 233.258, dando um total de 1.373.358 macondes.
Os macondes resistiram sempre a serem conquistados por outros povos africanos, por árabes e por traficantes de escravos. Não foram subjugados pelo poder colonial até aos anos 20 do século XX.
São exímios escultores em pau-preto, sendo a sua arte conhecida mundialmente.
Arte
A arte dos macondes é multiforme, como na maioria dos povos, mas é conhecida internacionalmente pela escultura em madeira. Na região de onde os macondes são originários, no nordeste de Moçambique e sueste da Tanzania, é conhecida também pela música e dança e pelos entrançados de palha, com que fazem belas esteiras, cestos e outros adereços para o lar.
escultura-maconde
A escultura maconde mais conhecida é feita em pau-preto, a madeira das árvores da espécie Dalbergia melanoxylon, também conhecidas internacionalmente pelo nome swahili “mpingo” . Estas esculturas têm três estilos principais:
· ”Shetani”, que significa “demónio”, são esculturas de figuras humanóides ou animais muito estilizadas;
· ”Ujamaa”, que significa família ou união, e são formadas por uma quantidade de pessoas, seus instrumentos de trabalho e, por vezes animais domésticos, artisticamente unidos; e
· figurativo, incluindo imagens humanas ou de animais ou ainda, por influência da colonização, de imagens religiosas, como crucifixos e imagens de Cristo ou de Nossa Senhora.
Um outro tipo de escultura, mas com outro significado cultural são as máscaras “Mapico”, tradicionalmente usadas nas cerimónias finais e públicas dos ritos de iniciação masculina. Estas máscaras são normalmente feitas com uma madeira leve e clara, muitas vezes da sumaúma brava, amplamente ornamentadas com panos e penas, e são colocadas sobre a cabeça do dançarino, de modo que ele consegue olhar pela boca da máscara. As cabeças são de animais ou pessoas, complementadas com pelos ou cabelo naturais, e podem caricaturacaricaturizar personagens conhecidas da comunidade, incluindo dirigentes ou antigos colonos ou militares.
De nacionalidade tanzaniana, um dos artistas macondes mais conhecidos na Europa foi George Lilanga, escultor e pintor.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

POVOS AFRICANOS - 1 Os zulus

zulus
Os zulus são um povo do sul da África, vivendo em territórios atualmente correspondentes à África do Sul, Lesoto, Suazilândia, Zimbábue e Moçambique. Embora hoje tenham expansão e poder político restritos, os zulus foram, no passado, uma nação guerreira que resistiu à invasão imperialista britânica e bôere no século XIX.
História Os zulus eram originalmente um grande clã onde hoje é o norte do kwaZulu-Natal. Foi fundada por Zulu kaNtombhela. Em 1816, os zulus formaram um poderoso estado sob liderança de Shaka.
Tchaka, fundador do reino Zulu Foi em 1740 que Dingiswayo tomou conta do poder da tribo Mthethwa. Iniciou uma política de expansão, começando a submeter várias tribos vizinhas à sua autoridade. Foi então que começou a organizar o exército sob o regime de grupos por idades. A medida que ia submetendo as tribos vizinhas permitia que os chefes dessas tribos continuassem no seu posto, sendo apenas obrigados a pagar-lhe um tributo em gado. Começou assim a criar as funções dum grande reino Ngoni.
Estátua em homenagem a shakaDingiswayo começou a expandir-se para o norte, o que obrigou Zwide, o chefe dos Ndwandwe, a fugir para o norte. Ao atravessar o rio Pongola empurrou os Ngwane que tiveram que ir para a região onde hoje é a Swazilândia. Ficaram desta forma duas grandes tribos frente a frente, a dos Mthethwa e a dos Ndwandwa.
Por volta de 1790 nasceu na tribo Zulu um rapaz a quem deram o nome de Tchaka. A história do nome Tchaka está relacionada com as circunstâncias do seu nascimento e por isso a vamos contar. O pai de Tchaka era herdeiro do trono Zulu. Entre os Zulus era proibido aos homens terem relações sexuais antes de terem sido circuncidados. O pai de Tchaka, porém, engravidou Nandi, a mãe de Tchaka, antes de ter sido circuncidado. Começou-se então a dizer-se que Nandi não estava grávida, que a razão para o crescimento da barriga era devida a uma doença dos intestinos a que chamavam «i-tshaka».
Quando o rapaz nasceu passaram a chamar-lhe Tchaka. Mais tarde o pai reconheceu o filho como sendo seu e tomou Nandi como uma das suas mulheres. Tchaka cresceu no entanto afastado do seu pai, vivendo muito ligado à sua mãe e mais tarde veremos as consequências que isso lhe trouxe no futuro.
Durante a sua adolescência Tchaka foi incorporado num dos grupos por idades do exército de Dingiswayo onde logo demonstrou a sua grande bravura e a sua força atlética. Em breve se tornou um herói favorito de Dingiswayo e passou a comandar um regimento do exército.
danca_zulu5Em 1816 o pai de Tchaka morreu e Tchaka decidiu tomar à força o trono Zulu. Embora a sua mãe nunca tivesse sido considerada uma das grandes mulheres do pai de Tchaka, e este não tivesse possibilidades de subir ao trono, a sua posição no exército de Dingiswayo e a sua qualidade de favorito fizeram com que Dingiswayo ajudasse Tchaka a tomar o trono pela força.
Em 1818 houve uma grande batalha entre Dingiswayo e Zwide na qual o chefe Mthethwa foi morto. Tchaka imediatamente tomou conta do poder e iniciou uma série de reformas militares que o tornaram quase invencível. A organização do exército de Tchaka Dingiswayo não tinha conseguido submeter as tribos Ndwandwe à sua autoridade. Os Ndwandwe eram comandados por Zwide. Na luta pelo espaço Tchaka precisava expandir para o norte. Para isso reformou todos os métodos de táctica e organização do seu exército. Tchaka formou um estado tribal militar.
Tchaka tinha verificado durante a sua estadia no exército de Dingiswayo que as armas empregadas já não correspondiam às novas tácticas de guerra. Dantes eram pequenos grupos que combatiam mas com a formação do exército por idade novas armas eram necessárias. Quando eram pequenos grupos de homens que lutavam usavam lanças que atiravam de longe. À medida que mais homens entravam na luta, continuando a usar lanças, a maior parte dos homens ficava desarmada. Assim, a primeira modificação que Tchaka introduziu foi a de substituir a lança que se atirava por uma lança mais curta de que o guerreiro se servia como uma espada e que nunca o abandonava. Era punido de morte o guerreiro que perdesse a sua lança-espada. Ao mesmo tempo Tchaka introduziu o uso do escudo que protegia o corpo inteiro.
Tchaka transformou a organização tribal numa organização militar unida, fazendo participar todos os membros da sociedade na guerra, dividindo com precisão as funções e introduzindo uma disciplina severa e cruel. Todos os homens de 16 a 60 anos serviam no exército. Era proibido aos jovens guerreiros casar-se e o casamento só era autorizado como pagamento de serviços militares. Os guerreiros só comiam carne. As mulheres e as crianças serviam também no exército, seguindo o exército com gado, cozinhando e carregando comida. Os homens de outras tribos que eram feitos prisioneiros tornavam-se escravos e se eram novos e fortes faziam parte do exército. As mulheres, as crianças e o gado das tribos derrotadas eram incorporadas na tribo. No período entre guerras toda a tribo vivia em grandes conjuntos militares (ekanda).
O chefe supremo era o chefe militar. Era ditador e proprietário de todas as terras da tribo e tinha o direito de vida e de morte sobre os membros da tribo. Era também o juiz supremo em casos de assassínio e traição, crimes que eram punidos com a pena da morte. Todavia, o poder ditador de Tchaka tinha os seus limites. Era controlado por conselheiros (indunas) com os quais se devia reunir para tomar decisões importantes.
Foi graças a esta organização militar perfeita que os zulus conseguiram conquistar e derrotar numerosas outras tribos. A batalha de Gokoli Tchaka tornara-se senhor absoluto nas terras entre o rio Pongola e o rio Tugela. Começou a desafiar o poder de Zwide, conseguindo fazer com que várias tribos Ndwandwe começassem a prestar-lhe vassalagem. Zwide não podia ficar parado perante um inimigo que se preparava para conquistar-lhe as suas terras e por isso resolveu tomar a iniciativa de atacar Tchaka.
Os dois exércitos encontraram-se perto da colina Gokoli. Nesta batalha os novos métodos de guerra instituidos por Tchaka foram postos à prova pela primeira vez. Os Ndwandwe eram numericamente superiores mas a disciplina do exército zulu conseguiu-lhe outra superioridade. Os Ndwandwe não conseguiram penetrar nas linhas cerradas dos zulus, apezar de terem atacado inúmeras vezes. Tiveram de recuar deixando no campo de batalha cinco dos filhos de Zwide, entre os quais o herdeiro.
Zwide não desistiu de atacar. Sabia que travava com Tchaka um combate decisivo. Ou ele vencia e podia continuar a reinar ou era vencido por Tchaka e o seu povo ficaria sob o domínio zulu.
Assim em 1819 enviou contra Tchaka um exército poderosíssimo. Face a um exército tão numeroso Tchaka teve que adaptar novas tácticas.
Tchaka enviou o seu povo e o seu gado para fechar a passagem ao inimigo ao mesmo tempo que ia atacando o exército Ndwandwe com pequenos destacamentos de guerreiros, numa táctica de guerrilhas. Uma noite uma grande quantidade de guerreiros zulus conseguiu penetrar no acampamento dos Ndwandwe, enquanto estes dormiam, e mataram centenas de guerreiros. Antes dos Ndwandwe poderem reagir os guerreiros zulus fugiram.
Ao mesmo tempo, Tchaka ia deixando o exército inimigo penetrar no seu território quase até ao rio Tugela, continuando a fazer pequenos ataques de guerrilhas, indo assim desmoralizando o exército inimigo. A fome começou a lavrar no exército de Zwide e todos os homens estavam muito cansados. Zwide então decidiu recuar e voltar para o seu país.
Quando iam atravessar o rio Mhlatuze o exército de Tchaka caiu sobre eles. Foram completamente derrotados. Tchaka enviou os seus exércitos que entraram no país Ndwandwe e massacraram a maior parte da população civil. O que restou do exército de Zwide dividiu-se em três grupos. Zwide conseguiu chegar com alguns dos seus até ao Alto Incomate onde se instalou. Dois outros grupos dirigidos por Soshangane e Zwangedaba foram instalar-se em Moçambique ao sul do Limpopo.
A batalha de Gokoli marca uma etapa decisiva na carreira de Tchaka e foi o ponto de partida do que se chamou o Mfecane, ou sejam as migrações para o norte de muitas tribos Ngoni.
Tchaka passou desta forma a dominar em todo o território que ia desde a Delagoa Bay (Lourenço Marques) até ao rio Tugela.
Depois da sua vitoriosa campanha contra os seus vizinhos do norte, Tchaka resolveu atacar o sul. Várias expedições foram enviadas para combater os Pondos. Conseguiu assim chegar até ao rio Fish.
Tendo conseguido formar um Império tão vasto Tchaka começou a reforçar a sua organização de Estado. Era difícil manter a lealdade sob um conjunto de povos diferentes. Assim, os chefes das tribos conquistadas se se declarassem fiéis a Tchaka, continuavam nos seus postos. Muitas vezes, porém, era-lhes tirado o poder e Tchaka nomeava para o seu lugar pessoas da sua confiança. A base do poder residia no exército. Tchaka criou uma série de guarnições militares à frente das quais se encontrava sempre um induna. Essas guarnições estendiam-se por todo o território e dessa maneira Tchaka estava pronto contra qualquer rebelião dos povos conquistados. Essas guarnições eram verdadeiros quartéis onde se encontravam todos os militares que viviam na sanzala e que passavam todo o tempo em exercícios militares.
Tchaka tornou-se um chefe cruel. Muitos dos seus generais (indunas) não estavam satisfeitos com a disciplina de ferro que Tchaka impunha no exército, sobretudo no que diz respeito ao casamento.
Vários indunas se revoltaram contra Tchaka. Um dos mais importantes foi Mzilikazi que com os homens que formavam a sua sanzala desertou da organização do estado de Tchaka e foi instalar-se para o noroeste onde é hoje a Rodésia, perto de Bulawayo. Tchaka continuou a fazer campanhas militares sucessivas. Lembremo-nos de que Zwide tinha sido derrotado em Gokoli e se refugiara no Alto Incomate. Os Ndwandwe tinham conseguido reconstruir a sua tribo e esta começava a ser muito forte sob o comando de Sikuniana, filho de Zwide. Em 1826 Zwide morreu e um outro seu filho Somapunga disputa o trono a Sikuniana. Não o tendo conseguido vai ter com os zulus e anuncia-lhes que Sikuniana faz planos de atacar Tchaka. Este imediatamente manda um grande exército que apanha os Ndwandwe quase desprevenidos. Um grande massacre tem lugar e cerca de 40.000 Ndwandwe são mortos. A tribo Ndwandwe ficou quase totalmente dizimada e deixou de existir como tribo independente. Os poucos que restaram foram acolher-se junto de Mzilikazi e Soshangane.
Tchaka continua a fazer ataques sucessivos contra os povos vizinhos. Todos são obrigados a pagar-lhe anualmente tributos sob a forma de cabeças de gado. As exigências de Tchaka são cada vez maiores e muitas tribos não conseguem às vezes reunir o número de cabeças de gado para satisfazer Tchaka.
As expedições punitivas aumentam e todo o Império zulu vive mergulhado no terror. Várias tentativas de assassinato são feitas contra Tchaka. A morte de Tchaka Em 1827 Tchaka decide ir atacar Soshangane que nessa altura se encontrava perto de Delagoa Bay (Lourenço Marques). Quando ia quase a chegar a Lourenço Marques chegou-lhe a notícia de que sua mãe Nandi morrera.Tchaka imediatamente mandou parar a expedição e voltou.
Tchaka sentiu muito profundamente a morte de sua mãe, com quem vivera e a quem tinha uma afeição sem medida. Em sinal de luto pela morte de Nandi Tchaka ordenou uma série de sacrifícios. Durante um ano não se faria agricultura, não se beberia leite nem comeria carne e todos se deviam abster de relações sexuais. Toda a mulher que engravidasse nesse período era morta, juntamente com o marido.
Tchaka nunca casara, porque um herdeiro fazia-lhe pensar na sua própria morte. Toda a mulher que se engravidasse dele era morta.
O luto pela morte de Nandi provocou um grande descontentamento em todo o povo. Toda a gente achava aqueles sacrifícios arbitrários e desumanos.
Em 1828, aproveitando-se do descontentamento geral em todo o Império, dois irmãos de Tchaka de nome Dingane e Mhlangane ajudados por um induna Mbhope resolveram assassinar Tchaka. No momento em que Tchaka tinha enviado uma parte dos seus exércitos para atacar os Pondos numa expedição punitiva, Dingane e Mhlangane assassinaram Tchaka. Foi Dingane quem sucedeu a Tchaka.
Guerra Anglo-Zulu A Guerra Anglo-Zulu foi um conflito que aconteceu em 1879 entre o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda e os Zulus. Em 11 de dezembro de 1878, os britânicos entregaram um ultimato aos onze chefes representados por Setshwayo. Os termos incluíam a rendição de seu exército e aceitar a autoridade britânica. Cetshwayo recusou e a guerra começou em 1879. Os zulus ganharam em 22 de janeiro a batalha de Isandlwana. A virada dos britânicos veio com a batalha em Rorke’s Drift e sua vitória veio com a batalha de Ulundy em 4 de Julho. Os britânicos venceram a guerra e conquistaram o Império Zulu. População população de zulus na África do Sul foi estimada em 8.778.000 1995, correspondendo a 22.4% da população total do país (“The Economist”). Nos restantes países, o número de zulus é estimado em cerca de 400 mil. A província sul-africana do KwaZulu-Natal é considerada a sua pátria original. A língua dos zulus é denominada isiZulu.